São Paulo (AUN - USP) - Pesquisas feitas no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP estudam a hipótese de mosquitos geneticamente modificados serem utilizados para combater a propagação de doenças como malária e dengue. Através de ferramentas de biologia celular, espera-se que seja possível modificar o genoma (conjunto de genes) do mosquito, o vetor dessas doenças, para evitar sua contaminação por vírus ou protozoários.
Dentre as doenças propagadas por mosquitos, a dengue e a malária ocupam lugar de destaque. A primeira tem sido a causa de morte de dois a três milhões de pessoas por ano, o que corresponde a 4% da mortalidade mundial. Já a incidência da dengue, nos últimos 20 anos, cresceu para 100 milhões de casos anuais. Durante a epidemia que ocorreu no Brasil, foram notificados, respectivamente em 1997 e 1998, 159.982 e 314.225 casos da doença.
De acordo com a pesquisadora Margareth Lara Capurro Guimarães, do ICB, a ausência de uma vacina eficaz contra a malária, a propagação de parasitas resistentes às drogas quimioterápicas e o aumento da resistência dos mosquitos vetores aos inseticidas, incentivaram o desenvolvimento de novas estratégias para o controle da transmissão desses agentes patogênicos. E uma alternativa viável seria a manipulação genética das populações naturais, visando reduzir a eficácia dos mosquitos como vetores da doença.
Margareth diz que a introdução, em uma população de mosquitos vetores, de um gene que confira resistência contra um patógeno, deverá levar a diminuição da transmissão da enfermidade. E tal processo pode ser facilitado pelo competente organismo de defesa que possuem os mosquitos: “Os mosquitos têm um sistema imune extremamente eficiente, que os protege de patógenos, bactérias e fungos”, explica a professora.
Para conseguir efetuar essa manipulação genética dos vetores, três campos de pesquisa estão sendo desenvolvidos: a interação vetor-patógeno, que estuda a regulação gênica dos insetos infectados; a construção das moléculas de ataque, no qual se pretende achar o gene que será utilizado na modificação do genoma do vetor; e a epidemologia molecular, que estuda a dinâmica biológica e populacional dos insetos naturais (não modificados).
“A elucidação dos mecanismos moleculares envolvidos na regulação da expressão de genes pode resultar no sucesso da estratégia de controle de mosquitos e seus patógenos”, afirma Margareth. Segundo a professora, com o resultado dessa pesquisa, financiada pela Fapesp, pretende-se reduzir ou até eliminar a transmissão de malária e dengue pelos seus vetores.