A vacinação de portadores do HIV evitam o desenvolvimento de uma série de patologias, apesar de induzirem habitualmente resposta imunológicas menores do que as produzidas em pessoas saudáveis. Um estudo inédito, realizado pelo Programa de Pediatria da Faculdade de Medicina da USP, trouxe novas perspectivas de proteção contra a doença meningocócica, importante no ponto de vista infectológico, em pacientes imunodeprimidos.
Segundo Daniela Vinhas Bertolini, infectologista e pediatra envolvida na pesquisa, o Programa Nacional de Imunizações indica essa vacina específica para crianças até os 13 anos de idade. Entretanto, o objetivo da médica era testar a substância em uma faixa etária excluída de tal calendário de vacinação, principalmente porque, hoje em dia, “há um número bem maior de adolescentes com aids do que crianças”, explica.
Os jovens recrutados para a análise foram avaliados antes e depois da aplicação da vacina. No caso dos 49 indivíduos presentes no grupo controle, ou seja, sem o HIV, a proteção contra a doença meningocócica chegou a 100%. Já nos pacientes portadores do vírus, essa porcentagem atingiu 70%, na primeira etapa, e aumentou para 84% na dose de reforço. Ainda que, visivelmente, a resposta à imunização dos pacientes com HIV/aids seja menor, a especialista revela a necessidade de ministrar duas vezes a vacina.
Adolescentes com HIV e imunidade
“Quando começou a epidemia do vírus, nas décadas de 80 e 90, muitas crianças nasciam infectadas, principalmente porque não havia um tratamento eficaz na época”, descreve a pesquisadora. Ao longo dos anos, houve a ampliação pela busca de tratamentos que levassem ao aumento da sobrevida e melhorias da qualidade de vida dos pacientes que convivem com a aids. Desse modo, os bebês que nasceram com a síndrome puderam sobreviver e crescer. Por isso, esclarece Daniela, existem tantos jovens portadores do HIV. Porém, ela não contava que tantos adolescentes não tivessem sido vacinados contra a doença meningogócica, já que essa prevenção existe há anos. “Percebi que é necessário vacinar não só as crianças, mas também os adolescentes e identificar que ainda não estão protegidos contra a doença”, ressalta.
Doença meningocócica e o calendário de vacina
A bactéria Neisseria meningitidis (meningococo) se instala de duas maneiras no corpo humano, quando no sistema nervoso central, transforma-se em meningite; já de forma generalizada, desenvolve a doença meningocócica. Transmitida pelas vias respiratórias, essa patologia tem alto índice de mortalidade e, mesmo quando tratada a tempo, pode trazer consequências graves ao organismo. “Muitas pessoas hospedam essa bactéria e não apresentam sintomas, contudo, ela ainda pode passar para as pessoas de seu convívio”, conta Daniela e complementa: “Quando em contato com pacientes imunodeprimidos, as chances de complicações graves e evolução para óbito são muito maiores”.
Meningococo visto em microscópio eletrônico
A vacina tem o poder de imunizar a pessoa e espalhar essa proteção à comunidade que a cerca, denominado pela infectopediatra de “imunidade de rebanho”, pela substância ser capaz de prevenir e, ao mesmo tempo, impedir a colonização da bactéria dentro da pessoa. Ao não circular em um espaço, a transmissão da bactéria se torna mínima, a qual leva a diminuição do aparecimento da doença em todo o grupo.