O Brasil é percebido como um líder instrumental e situacional diante dos outros países da América do Sul. Isso significa que as medidas tomadas pelo país em vários casos são tomadas como exemplo, e que ele possui a capacidade de intervir em momentos críticos na região. Foi o que concluiu Fernando Mouron, em sua dissertação de mestrado para o Instituto de Relações Internacionais (IRI) da Universidade de São Paulo.
A pesquisa foi realizada através da compilação e análise dos três jornais mais lidos da Argentina, Chile e Venezuela durante o período de um ano. Essa abordagem foi baseada em uma das primeiras conclusões do estudo, de que a mídia de massa possuí grande influência sobre a opinião pública em relação a assuntos internacionais.
O pesquisador constatou que o Brasil só exerce dois tipos de liderança, instrumental e situacional, entre os cinco tipos mencionados na pesquisa. Entre os três tipos não exercidos pelo Brasil na América do Sul se encontram a liderança estrutural, em que o país possuí capacidade material para arcar com os custos de sua liderança; a liderança institucional, em que ele tem a capacidade de criar órgãos e regras para institucionalizar sua posição; e a liderança coercitiva, em que o país tem a capacidade de punir aqueles que não seguem o caminho “sugerido” por ele.
Com a análise dos jornais, Fernando também constatou um caso específico de liderança brasileira na América do Sul. Na Argentina, a imagem brasileira é usada como ferramenta em debates dentro do país, tanto pela oposição, utilizando o Brasil como contraste para criticar o governo, quanto pela situação, que tenta apresentar Brasil e Argentina como aliados.
Segundo o pesquisador, as vantagens de se alcançar uma posição de liderança são econômicas e políticas. Pelo lado econômico, o Brasil investe muito em outros países da região, seja por meio de investimentos privados ou projetos de infraestrutura. Isso melhora as chances de negócios de empresários brasileiros que com apoio do BNDES tem ampliado muito sua participação na América do Sul.
Pelo lado político as vantagens seriam duas: ter a capacidade de intervir em conflitos regionais e fundamentalmente se projetar como o referente da região no mundo. “Isso daria ao Brasil uma maior força no cenário internacional, dado que não seria só o Brasil, mas sim o representante da América do Sul”, ressalta. “Pensando que o país quer ganhar um assento permanente no Conselho de Defesa da ONU, isso não é um detalhe menor”.
Mesmo assim, segundo Fernando, o Brasil ainda investe pouco em se tornar um líder regional. “O Brasil quer ser líder, mas não quer pagar os custos dessa liderança”.