A fonoaudióloga Marilia Barbieri Pereira com sua experiência no Centro de Saúde Escola Samuel Barnsley Pessoa, observou que grande parte das crianças atendidas que possuíam alteração fonoaudiológicas, especificamente alteração de linguagem, normalmente possuíam também algum problema auditivo associado. Partindo dessas análises, Marília fez um estudo buscando caracterizar as crianças atendidas no Setor de Fonoaudiologia, quanto às alterações primárias de linguagem. Essas alterações são de origem primária, por não serem derivadas de nenhum diagnóstico, mas sim do desenvolvimento infantil normal.
Utilizando dados do Centro de Saúde de 1985 até 2009, a pesquisadora focou em alterações de desenvolvimento de linguagem, de leitura e escrita, e de transtorno fonológico, que é a alteração que denominada quando ocorrem troca de letras na fala da criança. Para obter esses dados é preciso que a criança passe por uma avaliação audiológica, que consiste, em geral, em alguns testes. Um dos testes é a imitanciometria que é o que verifica as condições de orelha média. Esse mesmo teste é ainda dividido em mais dois tipos, sendo eles timpanometria, feito para verificar a mobilidade do sistema tímpano-circular, e a pesquisa de reflexos acústicos, em que são executados sons bem fortes e, após, verificado a contração do músculo, se isso é capitado pelo aparelho auditivo ou não.
Além desses, ainda tem a audiometria propriamente dita, responsável por determinar o limiar auditivo da pessoa. Esse teste é dividido em frequências, do mais agudo ao mais grave, e quanto a pessoa escuta em cada uma dessas frequências. Por fim, é usada ainda a audiometria vocal. “Ela é usada para verificar o limiar auditivo para recepção de sons, nesse caso, não de tons puros como usados na audiometria tradicional, mas de fala mesmo. Então a gente fala uma palavra e se a pessoa repete, vemos o quanto ela consegue entender”.
Devido ao fato da pesquisa ter sido feita com crianças, os testes acima por vezes não conseguiam ser realizados de forma plena. Pensando nisso, Marília criou uma variável dicotômica para analisar se a criança possuía ou não alterações de linguagem. “‘Sim’ era quando a criança apresentava tudo normal, resultados dentro da normalidade em todos os testes, tanto na imitanciometria, englobando as duas coisas, como na audimetria. E o ‘não’ era quando a criança tinha uma falha em qualquer um dos testes”, explica. Dessa forma conseguiu obter uma avaliação audiológica compatível com as situações reais de alterações fonoaudiológicas.
Ao fazer comparações estatísticas relacionando alteração de linguagem com ter ou não o perfil audiológico alterado, a pesquisadora não encontrou resultados significativos. Porém, ao fazer a comparação da população total do Centro de Saúde com alteração, não somente de linguagem como até outras alterações, observou que ter alguma alteração no perfil audiológico faz com que a criança tenha quatro vezes mais chance de ter uma alteração de linguagem.
Marília ressalta a importância de realizar o acompanhamento audiológico em crianças. Como criar programa de promoção de saúde e de prevenção, no sentido de promover um melhor desenvolvimento de linguagem de uma maneira geral e promover também uma saúde auditiva também de uma maneira ampla. “Não só pensando em conservação e perda auditiva em adultos e profissionais que utilizam a voz, mas nas crianças. Pensar em como o fonoaudiólogo pode atuar junto com outros profissionais de saúde nessa estrategia de promoção e prevenção”, defende.