Física e teatro não costumam se misturar, mas foi esse o caminho que seguiu o professor e ator Leonardo Crochik, professor do Instituto Federal de São Paulo (IFSP). Essa intersecção entre o ensino de física e as artes foi o foco de sua tese de doutorado no Instituto de Física (IF) da Universidade de São Paulo. “A pesquisa nasce de uma interação entre essa discussão teórica, que é pensar a educação e a ciência como arte e descobrir que tensões que aparecem quando você procura aproximar a ciência da arte e a educação da arte”, explicou.
Na sua pesquisa, Crochik realizou várias experiências em sua disciplina de formação de professores no IFSP, sejam propostas por si ou aplicadas por seus alunos nas escolas, sob sua orientação. O pesquisador sugeriu uma série de jogos teatrais para discutir o espaço e o tempo físicos e sua relação com a arte, principalmente o teatro.
Uma das atividades utilizadas consistia em um jogo de improvisação que buscava dar conta da Lei da Inércia e da Relatividade do Movimento, pedindo aos alunos que simulassem sua presença em um lugar que se move, embora com um referencial parado, como um ônibus ou um trem. “O próprio corpo mobiliza a sensação de estar num lugar que se move e representa aquele movimento. Ao invés de partir de uma ideia teórica, você parte de uma memória corporal que propicia uma reflexão sobre essa distinção física”, afirmou. A proposta de aula permitiu, de acordo com Crochik, discutir a diferença entre esses referenciais que se movem, referenciais parados e o movimento acelerado.
Para Leonardo Crochik, a formação de professores carece de uma atenção com o contato presencial inerente à atividade docente. “Muitas vezes a gente pensa a formação do professor muito centrada no lado intelectual. Pra mim, é uma lacuna muito grande. O professor está o tempo todo numa relação corporal com os alunos”, disse, que defende a retomada do prazer na atividade docente como tão importante quanto a defesa da importância da profissão.
Com essa ideia, o professor do IFSP sugeriu aos seus estudantes outra atividade teatral para explorar a percepção sensorial com todo o corpo, não apenas a visual que, afirma, está viciada pelo cotidiano. “Pedi para que explorassem o espaço da escola de olhos vendados. É a intensificação da percepção, não só da física, mas de toda a educação”, disse Crochik, que ressalta que a inserção da perspectiva teatral na formação docente não exige um professor-ator, que faz brincadeiras, mas sim de desenvolver a escuta do outro e estabelecer uma relação a partir disso.
O pesquisador acredita ser essa uma proposta mais do que pedagógica, mas política. “Uma defesa política da incorporação da educação daquilo que escapa ao controle, uma educação que consiga incorporar diferença, as diferenças de abordagens e as diferenças entre os estudantes”, concluiu.