ISSN 2359-5191

15/09/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 59 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Física
Modelo físico respalda surgimento do dinheiro a partir da desigualdade social
Ascensão da unidade monetária é tema de debate entre antropólogos e economistas

De acordo com uma pesquisa realizada no Instituto de Física (IF) da Universidade de São Paulo (USP), modelos físicos corroboram com a tese de que o surgimento do dinheiro ocorreu devido à emergência de sociedades hierárquicas. O tema é ponto de discordância entre economistas e antropólogos e foi parte do estudo da tese de dissertação do estudante Bruno Del Papa. "Queríamos testar se redes hierárquicas e igualitárias influenciam na emergência de dinheiro e a conclusão a que chegamos é que nas simulações houve uma maior probabilidade de emergência de dinheiro em sociedades hierárquicas do que em igualitárias, sugerindo que este pode ser um fator importante para o aparecimento de dinheiro", afirmou.

A realização da pesquisa exigiu um esforço duplo de Del Papa. Além do estudo de modelos computacionais matemáticos que permitem a criação de simulações, também foi necessário o estudo de teorias econômicas e estudos antropológicos e sociais. " A parte difícil", disse, "foi ler coisas que não são da área de física, coisas de antropologia, economia, ciências sociais, que não pertencem à minha formação. Entender o que está acontecendo para conseguir modelar".

A conclusão da dissertação corroborou com a crítica de alguns antropólogos, que defende a tese de que a unidade monetária surgiu da desigualdade social, ao passo que a teorias econômicas clássicas, em geral, assumem que o dinheiro surgiu do escambo, isto é, a troca de mercadorias.

O uso de modelos matemáticos para a análise de questões sociais ainda é incipiente, explica Del Papa, mas necessário. "Em física temos o exemplo de modelos ferromagnéticos na mecânica estatística, que começaram com simplificações para explicar o comportamento dos elétrons, e a idéia se simplificar os problemas antes de tratá-los pode ser também aplicada às ciências humanas. É um problema muito mais complicado, mas alguém tem que começar a pensar nisso". O principal obstáculo enfrentado em pesquisas dessa área é o número de dados disponíveis. Acostumados a possuir uma grande quantidade de dados experimentais para comparação com modelos teóricos em física, os pesquisadores têm uma quantidade limitada de dados sobre sociedades humanas - a pesquisa comparou os resultados teóricos com base de dados antropológicos, que incluem somente cerca de 1200 culturas.

No prosseguimento de sua pesquisa, Del Papa quer se voltar agora para a neurociência e analisar, entre outros tópicos. a forma como as pessoas representam mentalmente a sociedade ao seu redor, como interpretam o mundo. "Temos muitos algoritmos desenvolvidos em física e muitas áreas para aplicar isso. Podemos usar nossas ferramentas para atacar outros problemas complexos", concluiu.

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