De acordo com a Organização Mundial da Saúde, atualmente no Brasil existem cerca de 630 mil portadores de HIV/aids. A cidade de Santarém, no oeste do estado do Pará, possui um Serviço de Assistência Especializada, ambulatório utilizado para atendimento de portadores de HIV/aids, referência para 25 municípios da região. Em busca de dados atualizados sobre o perfil sociodemográfico e incidência da síndrome na Amazônia, o estudo desenvolvido pelo Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias, da Faculdade de Medicina da USP, indicou o crescimento de casos na região.
Para o médico Paulo Afonso Martins Abati, envolvido no trabalho, algumas hipóteses tentam explicar essa estatística. Dentre elas, o destaque vai para a identificação recente dos casos, e não um aumento próprio da transmissão do vírus. “Antes não haviam políticas públicas próprias para fazer o diagnóstico rápido, por exemplo”, descreve o especialista. A possibilidade de fazer o teste rápido do HIV, que fornece o resultado logo após o exame, além da abertura de Centros de Testagem e Aconselhamento (CTAs) descentralizados, são duas táticas relevantes para esse reconhecimento da ocorrência de casos no Norte do país.
Rio na região de Santarém: um dos meios de transporte utilizados pelos moradores (Foto: Paulo Abati)
Paulo Abati também ressalta o caráter inicial da pesquisa: “Não podemos extrapolar e generalizar esse quadro para a região amazônica”. Apesar disso, o infectologista comenta sobre a relevância de continuar as investigações para a conquista de uma análise concreta sobre os portadores do vírus. A vulnerabilidade social, sendo caracterizada pelo difícil acesso dos pacientes ao ambulatório, também se estabelece como um obstáculo para mapear a incidência no local. “A comunicação é feita normalmente por rios e as pessoas demoram dois ou três dias de barco para chegar em Santarém”, revela o especialista.
Como proposta para a continuidade de estudos na Amazônia, o médico revela um dado instigante, no qual 7,5% dos infectados pelo vírus são garimpeiros. Por meio dessa nova abordagem do tema, será possível traçar perfis mais específicos da população com HIV/aids, desenvolvendo melhor as causas da aparente epidemia na região oeste do Pará.