Oito países da América Latina, inclusive o Brasil, foram estudados em comparação que associa a ingestão de álcool com a ocorrência de lesões traumáticas. A análise se originou por meio de uma parceria internacional entre o grupo Alcohol Research Group – vinculado à Universidade da Califórnia –, nos Estados Unidos, a Organização Pan-Americana da Saúde e o Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP. Por meio dela, o pesquisador Gabriel Andreuccetti abordou o tema do ponto de vista da influência dos fatores contextuais, em que o tipo de bebida e o ambiente no qual houve o consumo são dois elementos a serem relacionados. Como um dos resultados mais relevantes do trabalho, o biólogo afirma: “Observamos que a cerveja tem uma associação positiva com a ocorrência de lesões nesses países”.
A região das Américas, conta Andreuccetti, possui “um dos piores índices mundiais de uso do álcool com consequências nocivas à saúde e à sociedade”, por isso a escolha específica de alguns países latino-americanos para a pesquisa. A amostra utilizada para o cálculo das estatísticas foi de, aproximadamente, 500 pacientes de cada país, submetidos a um questionário aplicado no atendimento das unidades de emergência, assim que a vítima aceitasse participar do projeto – em condições mínimas para responder satisfatoriamente as perguntas. Argentina, Brasil, Guatemala, Guiana, República Dominicana, México, Nicarágua e Panamá disponibilizaram os dados para contribuir para o caráter multicêntrico da comparação promovida pelo estudo.
Os resultados computados por meio de softwares de computador, próprios de pesquisas na área de saúde pública, revelaram conclusões particulares de suma importância e possibilitaram uma visão geral fundamental, de acordo com o especialista. “As diferenças entre os locais refletem os contrastes culturais no uso do álcool, isso pode auxiliar a coibir o uso nocivo dessa substância”. Assim, por exemplo, detectou-se que as regiões da América Central consomem maior quantidade de bebidas destiladas, enquanto no Brasil a preferência pela cerveja é notável; e na Argentina, os vinhos se destacam. Desse modo, em âmbitos gerais, a cerveja teve uma maior associação com a ocorrência de lesões traumáticas. Entretanto, tais danos podem se relacionar com a ingestão de qualquer tipo de bebida alcoólica e seguem as preferências e tradições nacionais de consumo. Além de se potencializado, segundo Andreuccetti, por meio do consumo de álcool em locais públicos, o que foi vinculado também ao comportamento da ingestão considerada de alto risco.
Ciência e políticas públicas
Para o pesquisador, toda a análise prática auxilia para estruturar projetos de melhoria na área. “Hoje em dia, gastamos muito com o atendimento de lesões no serviço de urgência, prevení-las seria o melhor”, ressalta e complementa, “Os países latino-americanos estão muito atrás no quesito de organizar políticas públicas sobre o uso de álcool. Esse tipo de pesquisa científica auxilia a criar políticas efetivas para o controle do uso nocivo de álcool”. Andreuccetti permanece em estudos na área de traumas e violência, incluindo a análise de outras drogas: “O uso de drogas pode também ter uma associação relevante com os casos de lesões traumáticas e até mortes, com ou sem o uso concomitante de bebidas alcoólicas”.