No Brasil e em todo o mundo, as diversas organizações têm executado cada vez mais projetos, a fim de solucionar problemas técnicos, promover mudanças e melhorias internas ou investir em novos empreendimentos. Em ano de Copa do Mundo no Brasil, ampliação de aeroportos, construção de estádios e ampliação de rodovias são alguns exemplos de projetos que precisaram ser desenvolvidos. Com o objetivo de contribuir nesta área, o professor Fernando Berssaneti, do Departamento de Engenharia de Produção da Poli (USP), realizou um estudo para compreender e identificar possíveis variáveis e o seu grau de impacto no sucesso de projetos em instituições de diferentes setores.
“O objetivo da pesquisa foi, basicamente, descobrir como uma empresa deve se organizar para ter um projeto bem sucedido”, revela Berssaneti. Para isto, o pesquisador analisou as relações entre aspectos organizacionais das empresas e aspectos específicos dos projetos (internos), ou seja, as variáveis encontradas no estudo, com base no modelo tradicional de avaliação de projetos, conhecido como “triângulo de ferro”. Esse modelo, utilizado e aceito no mundo inteiro, consiste em três grandes eixos: custo, em que se verifica o cumprimento do orçamento; prazo, ou seja, a execução do cronograma sem atrasos; e qualidade, que abrange o atendimento adequado das especificações e requisitos do cliente.
O triângulo, explica Berssaneti, ainda é bastante questionado em sua eficiência. Alguns pesquisadores defendem que a avaliação de um projeto baseada somente em três parâmetros é insuficiente, e critérios como sustentabilidade da empresa ao longo dos anos, conquista de novos mercados e aprendizado da equipe, por exemplo, também deveriam ser levados em consideração. Berssaneti, porém, é pragmático: “O modelo não é perfeito, logicamente, mas funciona e serve como parâmetro de comparação. Até hoje, ninguém propôs nada que fosse melhor e mundialmente aceito como o triângulo”. O pesquisador defende, ainda, que muitos dos outros critérios propostos para analisar o sucesso de projetos só podem ser avaliados a longo prazo, pois o benefício para a empresa só ficará evidente com o tempo, o que dificulta um julgamento mais imediato.
Os projetos investigados na pesquisa, portanto, foram bastante variados. Desde implantação de novo software, desenvolvimento de sistemas, construção de novas unidades produtivas da empresa e melhora ou substituição de processos ou equipamentos, que são projetos internos, até reformas de edifícios residenciais, construção de refinarias de petróleo ou ampliação de fábricas, projetos externos. Os resultados mostraram que, entre as variáveis encontradas, as que estatisticamente mais exercem impacto sobre o sucesso de um empreendimento são três: apoio da alta administração da empresa, encarregada de fornecer o suporte necessário para a conclusão do projeto; presença de um gerente ou gestor de atividades, que é responsável por todo o planejamento de orçamento, prazo, equipe, riscos, compras e por controlar a execução do projeto, a fim de cumprir o cronograma; e maturidade da empresa para gerenciar projetos, o que inclui processo, metodologia utilizada e treinamento de equipe.
Uma constatação inesperada, porém, foi a de que os escritórios de projetos, presentes em diversas instituições, podem atrapalhar o sucesso dos empreendimentos. Segundo Berssaneti, a razão para isto é que “esses escritórios, geralmente, são caracterizados por possuírem procedimentos extremamente burocráticos. Assim, dificulta-se o andamento do projeto e, consequentemente, a sua conclusão dentro dos prazos”.
Para a realização do estudo, que durou cerca de dois anos e meio, foi adotada uma abordagem quantitativa, com a utilização de um levantamento junto a 336 profissionais. Uma dificuldade apontada por Berssaneti, porém, foi encontrar representantes das empresas que estivessem dispostos e aptos a compreender e responder ao questionário, devido à presença de muitos termos técnicos e específicos da área. Os principais setores analisados, dessa forma, foram o industrial, TI (Tecnologia da Informação) e construção civil, que tiveram uma representatividade de 70%, aproximadamente, sobre o total de empresas entrevistadas. “Apesar dos resultados obtidos, que revelam variáveis significativas para o sucesso parcial de projetos, a pesquisa é apenas o início", afirma. "Com grandes empreendimentos sendo executados no Brasil – em decorrência de Copa do Mundo e Olimpíadas – os estudos para descobrir maneiras de minimizar a possibilidade do fracasso mostram-se, certamente, promissores.”