Pesquisa do Instituto de Psicologia evidencia que as pacientes anoréxicas apresentam grandes dificuldades para elaborar lutos. Por não haver recursos psíquicos eficazes para processar a dor da ausência, a perda ameaça a integridade psíquica e é sentida como abandono. “Foi observado que o mecanismo defensivo utilizado pelas participantes nas situações de luto é a negação maníaca”, afirma Verónica Wainstein, autora do trabalho.
A literatura científica tem descrito como características individuais de pacientes anoréxicos traços obsessivos e tendência ao perfeccionismo. Há também um consenso sobre a influência da dinâmica familiar no aparecimento de transtornos alimentares, sendo a relação mãe-filha especialmente complicada na anorexia nervosa.
Verónica encontrou em seu mestrado pacientes anoréxicas com histórias marcadas por desencontros afetivos: vítimas de abandono, frustrações e falta de um olhar materno atento e carinhoso. “Surgem nos relatos os significantes ‘frescuras’ e ‘preguiçosa’, palavras do discurso materno que denotam um profundo distanciamento afetivo,” explica Verónica. Já a figura paterna não é vista como parceira da mãe na criação dos filhos, mas descrita como um estranho ou como um agressor.
Pesquisas contemporâneas mostram que a anorexia nervosa afeta predominantemente as mulheres jovens, e tem seu pico de incidência na puberdade. Apesar de a comunidade científica não acreditar em uma causa única que determine o surgimento dos transtornos alimentares, cabe destacar que “um grande número de pesquisas relaciona o aumento da incidência dos casos de anorexia nas últimas décadas ao padrão de beleza extremamente magro fomentado pela mídia”, destaca Verónica.
O trabalho da pesquisadora evidencia a importância da alimentação na vida das pacientes. As refeições constituem o momento de união familiar e organizam a estrutura da família ao estabelecerem uma ordem temporal, em relação ao horário das refeições, e espacial, já que a hierarquia familiar se reflete nos lugares ocupados à mesa.
Entre os fatores desencadeadores mais frequentes de anorexia, estão os eventos de alto impacto emocional (luto, separação, frustração) e o início de uma dieta. Apesar de não ser condição suficiente para gerar o distúrbio, estudo feito nos Estados Unidos em 1999 mostrou que indivíduos que faziam dieta tiveram um risco 18 vezes maior de desenvolver transtornos alimentares em comparação com aqueles que não faziam.
Na análise final dos resultados Verónica observou que, para as participantes da pesquisa, os vínculos afetivos representam uma ameaça, por não haver distância adequada entre o sujeito e o objeto. Elas expressaram sentimentos de desesperança e futilidade nas tentativas de reparação do objeto danificado. “Os pedidos de socorro não são ouvidos, os cuidados dedicados ao objeto não são suficientes, a agressividade é tanta, que o objeto morre”, completa Verónica.