Mudar de profissão não é uma tarefa simples. Desde a decisão à própria transição são inúmeras as dificuldades e incertezas pelas quais as pessoas passam quando decidem dar este passo. O mesmo acontece quando os atletas de alto-rendimento resolvem, ou acabam precisando, mudar de carreira. Este foi o tema da pesquisa de Lina Eiko Nakata, desenvolvida na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA).
Ao observar que a carreira esportiva é caracterizada por um ciclo muito mais curto e dinâmico do que outras ocupações, Lina procurou investigar e analisar quais eram os fatores que influenciavam essa transição. Sua principal motivação foi tentar entender quais eram os desafios e sentimentos envolvidos no processo. Ao assistir vídeos de despedidas e de encerramento de carreiras, Lina observou que se tratava de uma fase muito complexa na vida do atleta. “Ninguém trata isso de uma forma fácil e tranquila. Deve ser difícil’’, conta.
Para entender este processo, a pesquisadora entrevistou 13 ex-atletas de modalidades individuais (como natação, atletismo, tênis, esgrima, entre outras) que passaram pelo processo de encerramento de suas carreiras nos últimos dez anos, por diversos motivoscomo lesões, idade avançada ou livre escolha.
Ainda que sua amostra tenha revelado estar satisfeita com o resultado da transição para novas áreas de atuação, Lina pôde observar que há pouca preparação para que o atleta continue trabalhando depois da aposentadoria. Um dos principais desafios é se desvincular da imagem de esportista, ainda mais quando muitos deles são tratados como verdadeiros modelos e heróis. Mesmo que não haja grandes mudanças pessoais, os atletas se deparam com uma vida totalmente nova e com perspectivas incertas de se manter financeiramente.
Atletas de maior notoriedade, que já tem uma imagem consolidada, possuem a fama como vantagem. Isso facilita o processo de transição, uma vez que estão disponíveis inúmeras oportunidades dentro e fora do esporte. Muitos acabam desenvolvendo projetos com grandes empresas, outros se tornam comentaristas ou mesmo técnicos de sua modalidade. Por outro lado, atletas de esportes menos prestigiados (e portanto, menos divulgados), ainda que tenham participado de grandes eventos como as Olimpíadas, não tem a mesma sorte. “Eles costumam se sentir perdidos neste momento. Tentam várias coisas até se encontrarem’’, explica. Além disso, a pesquisadora conta que vários dos atletasentrevistados buscaram carreiras completamente diferentes, como arquitetura, odontologia, economia e jornalismo.
Para facilitar essa transição, Lina destaca a importância da manutenção de uma rede de desenvolvimento forte. Essa rede se basearia, essencialmente, no apoio emocional ou não dos familiares, de amigos e de organizações, como o Comitê Olímpico ou a própria Confederação do esporte que o atleta pratica. Segundo a pesquisadora este momento pode ser bastante complicado. “Às vezes, as pessoas próximas não ajudavam neste processo’’, conta Lina. Ela explica que, por vezes, em um primeiro momento, pais e amigos costumam incentivar a permanência do atleta no esporte, e só quando vêem que a decisão de saída é realmente séria, passam a apoiá-la.
No entanto, ao mesmo tempo em que pôde-se observar que, de um modo geral, as organizações e os empresários costumam ajudar pouco, Lina revela um cenário otimista. Ela destaca que a transição de carreira vem se tornando mais simples em função das mudanças que o esporte vem sofrendo. “O esporte mudou muito nos últimos anos. É um setor que tem ganhado muitos investimentos e visibilidade. Os atletas de hoje são muito mais privilegiados, tanto em relação ao destaque na carreira como financeiramente’’, afirma a pesquisadora, a qual destaca que mesmo neste novo contexto, não deve-se subestimar a contínua importância do apoio psicológico, essencial para que os atletas realizem sua transição de modo positivo.