As últimas notícias a respeito da economia brasileira preocupam. A inflação cresceu nos últimos seis meses e atingiu 6,5%, o teto da previsão do Banco Central para o período. Os investimentos no país caíram no último ano e chegaram a 16,5% do Produto Interno Bruto (PIB), o menor índice desde 2006. O PIB recuou nos três últimos trimestres, colocando o Brasil em recessão técnica. Se a economia entrar em crise, o que será do desenvolvimento social do país? A menos de uma semana das eleições, o eleitorado brasileiro se divide mais uma vez entre nomes, partidos e promessas. É certo que escolheremos os próximos deputados, senadores, governadores e o presidente da República. A possibilidade de um novo Governo traz sempre a esperança de mudança. Mas, afinal, o Brasil pode mesmo melhorar?
Em palestra realizada neste mês na Faculdade de Economia e Administração – FEA, o economista estadunidense Albert Fishlow acredita que sim. Fishlow é professor emérito de Economia da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, onde é diretor do Instituto de Estudos Latino-Americanos e do Centro para o Estudo do Brasil. São mais de 30 anos de pesquisa na área.
No seminário Perspectivas Pós-Eleições: O Brasil Pode Melhorar?, o pesquisador compartilhou a sua visão da atual situação econômica brasileira e das medidas que deveriam ser aplicadas no país para uma melhoria futura. Ainda, deu opiniões sobre a organização política brasileira e a as campanhas eleitorais.
Política econômica interna
Fishlow apontou que o setor responsável pelo crescimento do país na primeira metade do século 21 foi o consumo privado, mas alertou: “O consumo não pode liderar o processo de crescimento”. A responsabilidade deveria passar para o investimento interno: “Hoje em dia, a taxa de investimento do Brasil é da ordem dos 18% do PIB. E o Brasil, para crescer, necessita de uma taxa mínima de 23% a 24%”, explica o professor. Segundo ele, essa mudança traria também um aumento necessário no investimento da estrutura do país: melhoria das rodovias, construção de portos e maior produção de energia.
Mas, para incrementar o investimento, é preciso poupar: “O Brasil tem que entender a necessidade de poupar ao invés de gastar”, diz o economista. Segundo ele, a taxa de poupança do Brasil é de apenas 15%, menor do que os vizinhos Chile (24%) e Peru (26%), e dos integrantes dos BRICs Índia (33%) e China (40%).
O professor também propôs a redução de gastos governamentais em todos os níveis (municipal, estadual e federal), dos gastos com previdência social e da taxa de impostos, que seria possível com os recursos provenientes do alto crescimento do país. E defendeu a diminuição do protecionismo brasileiro, alertando para a concorrência existente entre os estados brasileiros na busca pelos investimentos estrangeiros.
Sobre a destinação dos investimentos, além da melhoria na infra-estrutura brasileira, o economista sugeriu maiores despesas de cunho social, principalmente na educação e na saúde. Lembrando da difícil situação do Sistema Único de Saúde (SUS), o professor propõe o dobro do investimento atual, que segundo ele “está na ordem dos 5%” atualmente.
A respeito da educação, o professor reconheceu que o “Brasil já investe bastante”, mas precisaria investir mais e, principalmente, de uma maneira melhor. Fishlow exemplificou, indicando que um aluno de graduação tem um custo anual aproximado de US$ 10 mil, o que representa uma quantia 12 vezes maior do que é gasto pelo governo com um aluno da educação básica. Lembrou dos baixos níveis de aprendizado dos alunos brasileiros nas escolas públicas, que atingem níveis muito inferiores quando comparados internacionalmente. E, ainda, falou dos altos gastos privados na educação e o aparecimento de “faculdades privadas com nível limitado”.
Apesar do otimismo e das propostas pontuais, Fishlow entende que “há uma realidade muito mais difícil a ser encarada”. Para o pesquisador, as mudanças devem ser vistas como partes de um processo, que leva tempo, mas que se propõe a trazer estabilidade.
Política econômica externa
Além de mudanças internas, Albert Fishlow também apresentou medidas externas importantes a serem tomadas para o crescimento da economia brasileira, como a importância da abertura econômica, da entrada no mercado externo e da implementação de novas tecnologias.
O professor defendeu que o Brasil “não está participando do processo de globalização da economia atual”, pois está pensando muito mais no mercado interno do que no externo.
Segundo Fishlow, o país tem “uma posição positiva no sentido da capacidade de ter comércio: de um lado, com os Estados Unidos, com o mercado de manufaturas, e, de outro, com os países do sul, com as commodities.” Mas é preciso ganhar espaço no mercado internacional com o aumento da produtividade, a maior integração “das idéias de produtos de valor agregado“ e a interiorização “do processo de mudança tecnológica”
Para o economista, o Brasil tem que utilizar todas as suas forças (agricultura, manufatura, minas e petróleo, serviços) e aceitar a colaboração de empresas estrangeiras, que tem acesso a técnicas e recursos: “Você tem que se juntar ao mundo e não se fechar.”
As eleições
Ao analisar a magnitude do país, que tem uma população de mais de 200 milhões de pessoas, diferenças regionais gritantes, uma máquina governamental de 39 ministérios, 32 partidos políticos e um grande número de coligações, Fishlow também vê na política brasileira uma necessidade de mudança: “o Brasil está com um sistema político que não está mais funcionando”. Para o professor, uma reorganização política possibilitaria uma máquina governamental menor, mas mais eficaz.
Sobre as eleições que se aproximam, o professor notou um fundo negativo nas campanhas, que estão mais preocupadas em destruir a reputação dos outros partidos e candidatos do que em informar o eleitor das necessidades do país, do programa de governo proposto e os meios pelos quais ele atingirá seus objetivos.
E destacou a importância de toda a sociedade brasileira saber das medidas que serão tomadas no país e participarem do processo de mudança, tanto o setor público como o privado e tanto o governo como o povo brasileiro: “Todos tem que participar desse processo, sabendo qual será o plano e o quanto e como será gasto nele.”