O impasse econômico em que a sociedade brasileira se encontra torna um planejamento urbanístico atualizado “mais necessário do que nunca”, concluiu uma pesquisa realizada na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Mas, para João Bonett Neto, autor da dissertação “Planejamento urbano e formas ideológicas no Brasil. O caso de São Paulo”, o Plano Diretor recém aprovado na capital paulista deixa a desejar. “Sem dúvida nenhuma é uma evolução, mas não é o suficiente”, afirma.
Bonett ressalta que não considera a nova legislação, aprovada pelos vereadores paulistanos no último dia 30 de junho, uma ruptura ao que enxerga, no modelo vigente, como o estancamento do capitalismo no estágio extensivo de acumulação. “A sociedade tenta se reproduzir, mas não critica isso”, pontua o pesquisador.
O novo plano, que ainda não tem data para entrar em vigor, dá as diretrizes para a urbanização do município mais populoso do Brasil nos próximos anos, reformando o modelo cuja última modificação foi feita em 2002. No estudo de Bonett, o Plano Diretor Estratégico atual, aprovado durante a gestão de Marta Suplicy (PT), foi comparado ao Plano Urbanístico Básico de São Paulo, elaborado em 1968.
Concebidos em cenários ideológicos diferentes - o atual em um sistema neoliberal, e o antigo em uma conjuntura social-democrata - os planejamentos tiveram diferenças estruturais e práticas, segundo a pesquisa, por serem produtos de contextos distintos. Orientado por um grupo de docentes da faculdade, Bonett concluiu que a efetividade do planejamento urbano no país é “intrinsecamente condicionada pela base material da sociedade brasileira”.
Enquanto o plano de 1968 jamais foi colocado em prática, apesar de prever amplas obras de infraestrutura e mobilidade (como a construção de 450 km de metrô), as proposições de 2002 não só foram oficializadas e estão em vigência há doze anos como “oficializaram a precária estrutura urbana da cidade”, critica o pesquisador.