ISSN 2359-5191

06/10/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 69 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
Ficção científica busca reencantamento pela astronomia
As viagens espaciais já foram tema mais utilizado nos romances do gênero
2001, de Arthut C. Clarke, fez parte da "era de ouro" da ficção científica. Imagem: divulgação

Os estudos de astronomia e a produção de romances de ficção científica possuem uma íntima relação, pois os principais escritores desse gênero sempre beberam das fontes de viagens espaciais, do mistério do universo e do desenvolvimento de fenômenos astronômicos. Tendo essa associação base como tema, o seminário ocorrido na 19ª Semana de Arte e Cultura do IAG, “Ficção Científica e Astronomia”, ministrado pela jornalista e mestre em literatura inglesa com ênfase em ficção científica e fantasia, Cláudia Fusco, buscou retomar essa ligação, demonstrando a história dela e, ao mesmo tempo, definir os parâmetros e as perspectivas dessa relação, que atualmente esta diminuída.

Para a simples definição de Ficção científica, Fusco parte da premissa de juntar três teorias: a “literatura racional”, a “aceitação de leis naturais” e “que seja baseada em história e ciência”. Assim, já a diferencia da fantasia, pois esta é mais irracional, conta com a presença de lendas e mitos, não aceita as leis naturais e possui uma gama maior de assuntos. Já ao comentar da astronomia, ela remonta aos tempos dos filósofos gregos que praticavam a ciência da observação e do experimento, como Pitágoras e Luciano de Samósata, e passa por outros nomes mais modernos, como Copérnico, Galileu e Giordano Bruno. Ao tentar vencer a ideia do céu inatingível, esses cientistas serviram de forte influência para a ficção científica que viria.

A utilização da astronomia para os romances do gênero ganhou bastante importância principalmente com o francês Júlio Verne e o britânico H.G. Wells, ambos do final do século XIX e começo do XX. Verne, segundo Fusco, ficou famoso por suas “viagens extraordinárias”, mais insólitas; já Wells ganhou status com seus “romances científicos”, com mais presença do rigor da ciência. Porém, foi o Hugo Gernsback - o mesmo do Prêmio Hugo de ciências - que juntou essas duas características e editou diversas obras de ficção científica.

A união da astronomia com os romances ficou mais evidente com a chamada “Era de ouro” da ficção científica, da qual faziam parte as obras dos autores Isaac Asimov, Ray Bradbury e Arthur C. Clarke. Essa “era de ouro” se desenvolveu também graças aos avanços da tecnologia que possibilitaram as famosas viagens espaciais dos anos 50 e 60 do século XX. Ou seja, segundo Fusco, tratava-se de “tempos otimistas”, nos quais era nítida essa relação com a astronomia. Foram essas obras que “moldaram o imaginário da ficção científica”.

Entretanto, após diversas vertentes diferentes, as viagens espaciais foram dando lugar a um novo modo de produzir ficção, com o surgimento da ciência do ser humano, no qual era latente o questionamento da validade dos seres humanos nesses avanços tecnológicos. Sai a astronomia, entra o homem e toda a sua complexidade inerente. Desaparece o otimismo e floresce uma época de pessimismo. O americano Philip K. Dick é um dos expoentes dessa nova época, na qual existe, para Fusco, uma “cultura pulverizada” da ficção científica. “Trata-se de uma nova fase, com uma nova forma de contar estória”, comenta.

Fato é que, após a popularização da ficção científica, os tempos são de crise para essa aliança com a astronomia. As obras de ficção científica não são mais tão focadas nesses temas. “Ela [a astronomia] ficou esquecida, apesar de pontualmente aparecer, é uma incógnita”, diz Fusco. Porém, ela se mantém otimista com relação ao tema, e comenta que é necessário um “reencatamento cognitivo” por parte dos novos escritores, pois já existe muito conhecimento acessível. Através de renovações e de um novo encantamento, as obras de ficção científica podem continuar a adentrar a famosa fronteira final, isto é, o espaço e seus mistérios.

Leia também...
Nesta Edição
Destaques

Educação básica é alvo de livros organizados por pesquisadores uspianos

Pesquisa testa software que melhora habilidades fundamentais para o bom desempenho escolar

Pesquisa avalia influência de supermercados na compra de alimentos ultraprocessados

Edições Anteriores
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br