O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é uma síndrome bastante comum, presente em cerca de 5% das crianças em idade escolar. Há algumas décadas, descobriu-se que os sintomas não desaparecem na vida adulta e, quando não são tratados adequadamente, podem justificar complicações no rendimento acadêmico e em outros aspectos. É normal que estes adultos apresentem dificuldades em gerenciamento de tempo e um histórico de abandonos, seja em relacionamentos, escolhas de graduação ou cargos profissionais.
Maria Aparecida Silva, psiquiatra e aluna de doutorado da Faculdade de Odontologia da USP (FO), resolveu averiguar, dentro da unidade, os estudantes que possuem a síndrome e o quanto isso afeta a vida profissional e universitária de cada um. “O meu trabalho foi investigar a freqüência de TDAH entre os adultos e tentar fazer alguma correlação. Das crianças com a síndrome, 60% apresentam problemas de coordenação motora, por exemplo. Aqui na odontologia esse seria um problema fácil de identificar, já que eles possuem disciplinas que exigem habilidades manuais”.
Não existem exames laboratoriais específicos para definir o TDAH, o diagnóstico é exclusivamente clínico. Assim, Maria Aparecida aplicou um questionário de auto avaliação com 18 questões para 408 alunos de graduação da FO. Aqueles que atingiram certa pontuação limite para indicação da síndrome, foram convocados para uma entrevista com a psiquiatra e testes práticos de coordenação. Mais de 10% dos entrevistados foram diagnosticados com o transtorno e apresentam grande número de reprovação e dependência em disciplinas, confirmando o prejuízo acadêmico.
O baixo número de estudantes que compareceram à esta consulta individual não permitiu que conclusões sobre comprometimento da coordenação motora fossem comprovados, mas ao menos 11% apresentam alguma condição psiquiátrica como ansiedade e depressão.
A pesquisadora aponta algumas alternativas para aumentar a qualidade de vida destes estudantes. Afirma que já existem programas dentro da Universidade que poderiam ser aprimorados. O serviço de tutoria é um dos casos, se sua atuação fosse mais intensa, os resultados seriam mais satisfatórios. Além disso, sugere a criação de um núcleo de profissionais da pedagogia, psiquiatria e psicologia que pudessem orientar melhor os alunos, impedindo que sua formação seja deficiente e acompanhando suas dificuldades acadêmicas.
Há, ainda, um plano de extensão da pesquisa. Maria pretende estudar o rendimento de alunos de áreas diferentes, como as humanas. Com isso, buscará verificar se os problemas decorrentes do TDAH interferem também na escolha da graduação. Se, por exemplo, complicações com a coordenação motora podem afastar um jovem de um curso que exija habilidades manuais, como a odontologia, ou se a dificuldade de concentração pode distanciar um estudante dos cursos das exatas, que demandam grande e frequente atenção a cálculos e raciocínios. Além disso, observa-se também a própria propensão desse aluno a ter dependências e reprovações, uma vez que a capacidade de planejamento, organização e outras funções podem ser prejudiciais em qualquer escolha da graduação.