Pesquisa recente do Instituto de Biociências (IB), feita pelo mestrando Enrico Frigeri, mostra que a presença de cachorros na Mata Atlântica tem prejudicado a fauna de fragmentos florestais. A influência do homem nesses ambientes é um dos principais fatores que facilitam a invasão desses animais em ambientes impróprios.
Gambás, veados, cachorros-do-mato e iraras são alguns dos oito mamíferos estudados no interior de São Paulo e que foram influenciados negativamente. Dentre os problemas, foram identificadas relações de predação, competição (causando diminuição da disponibilidade de alimento) e até mesmo transmissão de doenças, como raiva e cinomose. De acordo com Frigeri, existem vários circunstâncias que podem estar relacionadas com a presença desses animais domésticos dentro de fragmentos florestais. A principal delas está ligada à proximidade das áreas residenciais com as matas. Os cachorros saem em busca de caça ou por lazer, acompanhando os próprios donos que coletam água nesses locais. Esta prática acostuma-os a ter o hábito de viver em fragmentos, com ou sem a presença do humano. O fato de alguns não serem bem alimentados também colabora para que busquem comida fora de casa.
Ainda segundo os dados obtidos pela pesquisa de Frigeri, 60% dos cães observados têm dono e mais da metade desse número não foi devidamente vacinada contra raiva ou cinomose. Além disso, apenas 4% são castrados, o que propicia uma maior proliferação desses animais. A falta de cercamento também é um fator prejudicial que facilita a passagem para as áreas já fragmentadas pela intervenção do homem. “Você tem, no máximo, um pasto que impede o deslocamento dos cães. Não há um alambrado ou nada que impeça o deslocamento deles. Então o manejo dos animais favorece que eles entrem”, explica Frigeri.
Zero transmissão
Para Frigeri, acredita-se que há duas frentes de ação para serem tomadas e minimizar esse tipo de impacto. A primeira consistiria na mudança na maneira com a qual os cães são cuidados, tanto ampliando programas de vacinação e castração públicas quanto a restrição do deslocamento desses animais. A segunda ação seria a manutenção de matas de boa qualidade, pois restaurar e reflorestar os fragmentos dificulta fisicamente o acesso para dentro do mato. “Com isso você praticamente zeraria a transmissão de doenças, a predação e a competição causadas pelo cão de estimação na fauna silvestre”, conclui Frigeri.