“Este mês de fevereiro foi o meu mês de Homero. Li a Ilíada e a Odisseia. Estou recheado de formas gregas, bêbado de beleza apolínea. Maravilhoso cinema, Homero! Gostei muito mais da Odisseia”. Esse é um trecho de uma carta escrita por Monteiro Lobato em 1908, destinada a seu amigo Godofredo Rangel. O fascínio do escritor pela Grécia Antiga torna-se claro durante a leitura de suas correspondências, e é diretamente refletido em suas obras, o que as torna ainda mais ricas.
A pesquisadora e professora Raquel Endalécio Martins estudou a fundo a relação do ilustre brasileiro com este período tão distante na história: “Essa foi a pergunta inicial da minha pesquisa. Por que será que Monteiro Lobato gostava tanto da Grécia? E onde ele encontrava tanta informação? Depois de oito anos de pesquisa percebi que não há uma resposta única sobre o assunto. Lobato era um homem culto, que lia e produzia muitos livros. Estudando sua obra e biografia percebi que boa parte desse “fascínio” pela Grécia veio de suas leituras como a Ilíada e a Odisseia de Homero”.
Além de autor, Lobato dedicou-se também a traduções, período em que traduziu diversas obras do grego para o português. A primeira tradução brasileira de Story of Philosophy foi assinada por Monteiro Lobato e Godofredo Rangel. “Em um país que tinha pouco acesso aos livros, especialmente aos estrangeiros, as traduções de Lobato encheram as prateleiras, e claro, seus gostos pessoais eram um fator importante na escolha dos títulos”, conta a pesquisadora.
Em suas obras, Lobato sempre tentava aproximar o universo grego, contextualizando e familiarizando seus leitores. “Quando os picapauzinhos experimentaram o néctar dos deuses e a ambrosia em O Minotauro, descobriram que seu gosto era de ‘um mel mil vezes mais gostoso que o das abelhas’ e de ‘curau do bom – mas muito melhor do que o da Tia Nastácia’, respectivamente”, conta Raquel.
Essa situação imposta pelo autor tem um valor educacional muito forte, principalmente para as crianças. Além de aprender mais sobre História e mitologia, elas são instigada a resolver os problemas junto com as personagens. “Acho que o maior valor pedagógico da obra de Lobato é não subestimar as crianças, pelo contrário, é o cuidado em formá-las seres autônomos e criativos. Elas têm a oportunidade de perguntar e formar sua opinião”, explica a pesquisadora.