São Paulo (AUN - USP) - A má administração de recursos, desperdício de medicamentos e diagnósticos equivocados compõem um quadro de saúde pública no Brasil que não é novidade. Pensando na redução de custos em toda a rede pública sem o sacrifício da qualidade, o professor Moacir Aizenstein, do Instituto de Ciências Biomédicas(ICB) da USP, e Eliane Ribeiro, farmacêutica responsável pelo Hospital Universitário da universidade, trabalham numa revisão de publicações estrangeiras sobre as vantagens da criação da função do “farmacêutico clínico”.
O trabalho do farmacêutico, profissional que mais entende de medicamentos, esteve restrito por muito tempo aos laboratórios, à indústria farmacêutica. Porém, nas últimas duas décadas, com o grande avanço científico e tecnológico que acarretou na maior complexidade dos cuidados de saúde, hospitais modernos de países desenvolvidos perceberam que farmacêuticos fazendo parte da equipe de saúde, entre médicos, enfermeiros, nutricionistas, proporcionariam tratamentos mais eficazes e seguros, com o menor custo possível.
Os funcionários que costumavam trabalhar na farmácia hospitalar, atuando no controle de estoque, manipulação e teste de medicamentos, análises, passaram a atuar junto a médicos e pacientes. Em relação aos primeiros, seu papel é o de advertir sobre efeitos colaterais decorrendo das particularidades de um paciente, sobre as possíveis interações medicamentosas e interferências dos remédios nos resultados dos exames laboratoriais.
Junto aos pacientes fazem a análise de sua história farmacoterapêutica - as doenças que já teve, as substâncias às quais tem alergia, as terapias pelas quais já passou - a fim de nortear os processos clínicos, participam de programas de educação a fim de aumentar a adesão aos tratamentos e praticam a farmacovigilância( acompanhamento dos resultados promovidos pelos medicamentos). Além disso é a pessoa mais hábil para estabelecer a “lista de medicamentos padrão”, isso é, fazer a seleção de remédios para o estoque da instituição. Se essa for feita por alguém que conhece a realidade clínica do lugar, será mais racionalizada e econômica.
Nos EUA, atualmente, as faculdades de farmácia exigem residência clínica e existem especialidades dentro da área: farmacêutico de oncologia, endocrinologia, geriatria. As seguradoras de saúde estão tão convictas das economia geradas por essas mudanças que obrigam os hospitais a terem “farmácias clínicas”. Essa tendência já se espalhou por toda a Europa e, na América Latina, o Chile já um exemplo de desenvolvimento.
No Brasil, o Hospital Universitário da Universidade de São Paulo desenvolve mudanças que viabilizarão a adoção da farmácia clínica, mas, num quadro geral, ainda não foi dada muita atenção à questão nem no setor público nem no privado. A USP, no entanto, promoveu em 2004 uma reforma curricular para adaptar o curso de farmácia à nova realidade profissional.
No momento, Moacir e Eliane aguardam resposta a um pedido de apoio para um estudo na área de redução de custos da farmácia clínica feito ao Ministério da Saúde em conjunto com o Conselho Nacional de Apoio à Pesquisa(CNPQ). E em breve publicam a revisão dos estudos sobre as vantagens econômicas dessas mudanças na “RAE: Revista de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas”.