ISSN 2359-5191

07/11/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 81 - Saúde - Instituto de Psicologia
Processos sociais são mais determinantes que biologia em casos de trantorno mental
Em palestra no IP, professor norte-americano questiona modelo da psicologia tradicional e propõe novo olhar sobre causa e tratamento dos distúrbios da mente
Desenho: Brenno de Castro

Carl Ratner, renomado professor e pesquisador estadunidense, esteve no IP-USP no dia 4 de novembro para explicar os reflexos que um dos maiores descompassos da psicologia tem na vida de todo mundo. Através da exposição dos dois principais modelos de psicobiologia desenvolvidos pela ciência, sua ideia era mostrar que o tratamento para transtornos mentais mais difundido hoje em dia não é necessariamente o mais eficiente - muito pelo contrário. A plateia, composta principalmente por alunos do sexto semestre de psicologia, demonstrou em suas perguntas e comentários concordar com o ponto de vista do pesquisador.

O descompasso de que tratou Ratner se dá a partir da causa dos transtornos da mente humana, que não é unânime entre os profissionais da área. Cada uma das teorias que surgem a partir desse contraponto abre um leque de possibilidades de tratamento e de estudo diferente. O ponto de vista mais difundido vem levando cada vez mais os distúrbios mentais aos cuidados da psiquiatria e dos medicamentos. A outra, apresentada como proposta alternativa à primeira desde os anos 50, parte da resposta àquela primeira pergunta rumo a novos questionamentos, desta vez a respeito da sociedade como um todo e do que ela tem a ver com distúrbios considerados individuais.

O modelo mais tradicional da psicobiologia parte da suposição de que os indivíduos considerados “normais” e “anormais” são diametralmente opostos na sociedade. A causa dos distúrbios mentais, dessa forma, não passa de uma simples exceção à norma, que surge a partir de motivos biológicos ou traumáticos individuais e que pode ser tratada com medicamentos. Já o modelo macro-social, defendido pelo estadunidense, se baseia na ideia de que a normalidade gera patologias, e que as doenças da mente, portanto, são intimamente ligadas com comportamentos considerados comuns. Segundo esse ponto de vista, os distúrbios psíquicos têm raízes sociais, políticas e culturais, ultrapassando a individualidade da biologia e da genética e não conseguindo atingir a cura através de remédios. Para ilustrar essa teoria, Ratner menciona pesquisas científicas, como a que comprova que bebês com predisposições genéticas iguais têm mais chance de deselvolver doenças quando vêm de classes socioeconômicas baixas, de Gollnitz e Werner. Além disso, o palestrante chama atenção para o fato de que o DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), manual norteamericano para guiar médicos e psicólogos do mundo todo no tratamento de psicopatologias, é partidariamente redigido por psiquiatras ligados à indústria farmacêutica, o que contribui, claramente, com a popularidade do modelo tradicional.

O professor Ratner é um importante crítico da psicologia tradicional, tendo feito parte do Movimento Antipsiquiatria desde a década de 1970. Atualmente, ele é diretor do Institute for Cultural Research and Education in Northern California, além de professor adjunto da Universidade Autônoma de Morelos, no México. A conferência no IPUSP foi traduzida do inglês simultaneamente, e contou com interação intensa por parte da plateia.

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