Alguns comportamentos incentivados pela mídia, profissionais de saúde e principalmente pelos pais, podem levar a práticas inadequadas de controle do peso e aumentar a chance de desenvolvimento de transtornos alimentares. É o que mostra uma pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da USP, feita pela nutricionista Greisse Viero com mais de 1000 adolescentes de escolas do município de São Paulo. O estudo revela que 31,9% dos adolescentes consultados utilizam práticas não saudáveis para controlar o peso. Entre elas está pular refeições, usar remédios, substitutos de refeições, e fazer dietas que restringem alimentos.
Muitos jovens são fortemente incentivados pelos pais a praticar dietas para redução de peso. Esse fator, associado a críticas e brincadeiras de familiares faz com que os adolescentes procurem soluções rápidas para se adequar ao padrão de corpo valorizado: magro, para as meninas e forte, para os meninos. Uma das soluções mais usadas é a dieta restritiva, que, de acordo com a pesquisa, aumenta as chances de desenvolvimento de transtornos alimentares graves como anorexia e bulimia.
Greisse sugere que os pais e profissionais da saúde mudem a forma de abordar o controle de peso, incentivando uma alimentação balanceada que contenha todos os tipos de alimento, mesmo os que são fonte de açúcares, gorduras e sódio (em pequenas quantidades). Deve-se também incentivar a prática de atividades físicas feitas por prazer, não por obrigação.
O mais importante, no entanto, é promover a satisfação corporal, mostrando ao adolescente a existência de diversos tipos de corpos e a impossibilidade de padronizá-los. Greisse lembra que “se a insatisfação com a imagem corporal do adolescente fosse tratada pelos pais e profissionais da saúde como algo inerente a eles e que vai passar após a puberdade, geraria menos preocupação no adolescente e menos estímulo a busca por soluções rápidas e perigosas para controle do peso.”
A mídia também faz parte dos fatores que influenciam a insatisfação do adolescente com o própria aparência. Ela “dissemina imagens de corpos muitas vezes irreais e incentiva a prática indiscriminada de dietas, fazendo parecer ser fácil chegar ao corpo do modelo da revista”, afirma Greisse. Além da mídia, a internet consegue ser igualmente perigosa “tudo pode ser acessado instantaneamente, ‘como ter um corpo perfeito’, ‘dieta da fulana de tal’...tudo muito rápido e fácil, pelo menos é o que parece para o adolescente”, diz.
Meninas são as mais afetadas
O estudo de Greisse mostra ainda que, entre os adolescentes praticantes de hábitos não-saudáveis para controlar o peso, que correspondem a 31,9% dos participantes da pesquisa, as meninas são maioria: 66,8%. Além disso, 12,2% dos adolescentes avaliados apresentaram comportamento de risco que pode evoluir para transtornos alimentares, sendo que 72,5% deles são meninas.