Para que as pequenas e médias empresas (PMEs) brasileiras conquistem um espaço na economia falta mais que investimento: falta informação. Estas companhias sofrem não apenas com a falta de instrução em tecnologia da informação (TI) como também com o desconhecimento da existência de políticas públicas que poderiam auxiliá-las. Assim, o contexto revela que estes projetos desenvolvidos pelo governo precisam ser fortalecidos de modo que as empresas tenham acesso a eles e possam escapar da exclusão digital em relação às grandes companhias. Foram essas as principais observações de Érica Souza Siqueira, em pesquisa desenvolvida na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA).
A principal motivação da pesquisadora foi a discrepância em relação ao uso de tecnologia entre pequenas e grandes empresas, o que configura um cenário de exclusão digital. Segundo ela, é muito comum se estudar a exclusão digital em relação a pessoas e países. Já os estudos relacionados à empresas, no entanto, são muito escassos. Assim, seu principal objetivo foi investigar o atual cenário em que vivem as PMEs e o que explica essa diferença de acesso e consequentemente, de produtividade e ganho.
Érica teve como base uma pesquisa realizada pelo Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic). O orgão constatou que mais de 99% das empresas tem acesso a computadores, à infraestrutura de rede (como cabeamento e servidores) e à internet. No entanto, apesar de terem este acesso, as empresas não utilizam esses sistemas para realizar seu gerenciamento, o que, se fosse feito, poderia ser convertido em ganho de competitividade. O porquê destas empresas não aproveitarem recursos aos quais possuem o acesso também foi mais uma das motivações da pesquisadora.
Assim, ela desenvolveu um índice numérico de uso das tecnologias a partir das questões propostas pelo Cetic. Ela pôde, então, identificar e testar quais fatores poderiam ou não influenciar esse índice. Um deles é o uso de banda larga. “Constatei que empresas que tem banda larga, tem um índice de uso de TI maior. Elas tem mais softwares de gestão, usam mais a tecnologia para fazer a gestão do negócio e de conhecimento, além de inovarem mais”, explica Érica. O uso de TI também é mais desenvolvido quando as empresas realizam atividades básicas na internet (como compras online, pesquisas e troca de mensagens instantâneas) e quando elas possuem serviços terceirizados - principalmente em informática - dentro da empresa, de modo que pessoas de fora trazem as informações e benefícios acerca da tecnologia.
Segundo a pesquisadora, um dos motivos que complica o acesso e o manejamento da tecnologia nas PMEs é o fato de estas estarem muito centradas na figura única de um gestor ou do dono da empresa. “Ele não tem condições de fazer tudo, pensar em tudo e, além disso, planejar a tecnologia da informação para o negócio dele ir para frente”, comenta a pesquisadora e destaca a importância da existência de um departamento específico para TI. Essa circunstância se une a outro fator: a possibilidade de se realizar investimentos, aspecto fundamental para pequenos negócios. Empresas que possuem mais computadores, e assim, mais usuários, tem maior uso de TI. Mas isso depende de recursos financeiros. No entanto, o governo dispõe para as PMEs diversas linhas de crédito para compra de equipamentos, de modo que outra questão acaba sendo levantada: o porquê das PMEs não fazerem uso destas alternativas.
Assim, a não-utilização da tecnologia na gestão do negócio acaba prejudicando a produtividade das PMEs, o que, segundo Érica, configura um quadro preocupante. “As grandes empresas, apenas 6% do total no país, tem uma participação muito significativa no PIB, em torno de 70%. As pequenas empresas não tem essa representatividade e essa distância só aumenta, especialmente em produtividade, conforme a tecnologia avança. Assim, mais de 90% das empresas brasileiras poderiam ter sua produtividade ampliada se elas fizessem uso racional da tecnologia, utilizando-a para gerar inovação, fazer recrutamento, treinar os funcionários, entre outras atividades”, explica. Além disso, quanto menor o uso de tecnologia, menos estas empresas estarão inseridas na economia: “Elas vão alcançar um público menor, vão oferecer uma satisfação menor para o cliente, com menor potencial de alcance, ficando cada vez menos produtivas”.
Diante disso, é necessário que o governo crie e desenvolva as políticas voltadas para a adoção da tecnologia. “Existem políticas públicas tanto para a compra de equipamentos (computadores, softwares) como para o acesso à banda larga, o Plano Nacional de Banda Larga. Essas políticas possuem vários entraves ainda, não alcançaram o que deveriam alcançar e precisam ser trabalhadas, mas elas existem”, diz Érica. A pesquisadora destaca, também, a importância da formação do empreendedor em escolas e telecentros para que ele possa saber o que é a tecnologia e como ela pode colaborar no trabalho dele. No entando, para a pesquisadora, o empreendedor precisa saber que estes projetos existem e podem ajudá-lo, de modo que é essencial que o alcance destas políticas sejam cada vez maiores.