O uso de álcool e drogas é um fato recorrente em vários países do mundo, sobretudo entre jovens. É nessa faixa etária que geralmente se inicia o uso pela maioria das pessoas, e é onde também as ações preventivas apresentam melhores resultados. A Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad, 2010) publicou recentemente uma pesquisa de abrangência nacional sobre o consumo de drogas entre universitários no Brasil. O estudo investigou uma amostra de 12.711 estudantes de universidades públicas e privadas, do país e 60,5% relataram ter consumido álcool nos últimos 30 dias. Além disso, foi observada ainda uma prevalência de 25,9% para o mesmo padrão de uso de drogas ilícitas.
O ambiente universitário apresenta muitas atividades extra-curriculares, tanto aquelas mais voltadas ao ensino, como grupos de estudo e iniciações científicas, quanto atividades consideradas “não acadêmicas”, como jogos e festas universitárias. Nesse contexto, também é bom ressaltar que a universidade significa uma nova fase, de liberdade e descobertas da vida do jovem, que muitas vezes passa a morar sozinho e não possui mais o controle dos pais sobre suas vidas. “Para os jovens, o uso do álcool significa um momento de confraternização e relaxamento com os colegas, seja pelo encerramento de período desgastante de provas, pela comemoração de uma conquista esportiva ou ainda integração com os calouros. No caso de drogas ilícitas parece um momento de exploração do sentimento de liberdade-autonomia, das sensações do próprio corpo e da curiosidade sobre a promessa dos efeitos positivos da droga”, afirma o psicólogo Alexandre Fachini.
Em sua pesquisa, o psicólogo analisa o comportamento dos jovens em duas fases da vida universitária: no início e no final do curso. “As análises estatísticas confirmaram, curiosamente, que os alunos que tinham pouco envolvimento com alunos que apresentavam problemas acadêmicos decorrentes do uso de drogas – por exemplo, beber e faltar na aula do dia seguinte, baixo rendimento escolar devido ao uso de drogas – mostraram um risco três vezes maior de serem classificados como positivos para binge drinking (consumo de cinco ou mais doses em uma ocasião) no início do curso. Por outro lado, no período final do curso, esse mesmo padrão de consumo de álcool foi associado aos homens e aqueles alunos que relataram estarem satisfeitos com o curso, com risco de 10 e 17 vezes maior para a ocorrência de binge, respectivamente”, relata Fachini.
Nos períodos finais do curso, em que geralmente a rotina se torna desgastante, é comum os jovens procurarem o consumo do álcool para relaxarem e confraternizarem. Porém, é necessário observar que as festas – onde os jovens procurariam esses momentos de confraternização – parecem não participar mais com a mesma força observada nos períodos iniciais do curso, mas sim de forma mais marginal. Isso faz com que o consumo de bebidas não seja tão frequente, mas quando ocorre, é de maneira excessiva.
Esse consumo excessivo que chama a atenção dos profissionais da saúde e os fazem pensar em ações de prevenção. “Existem aspectos pertinentes ao contexto da vida estudantil associados ao comportamento do consumo de substâncias. Associações observadas revelam a necessidade de ações de curto prazo que se orientem no conceito de redução de danos. Além disso, centros especializados de apoio ao estudante e ações que privilegiem a dimensão psicopedagógica no contexto da formação acadêmica podem ser um importante meio de auxílio imediato aos jovens estudantes”, afirma o psicólogo.