A pesquisa da enfermeira Rita Dalri utilizou os níveis de cortisol salivar em enfermeiros da Unidade de Emergência, para mensurar os níveis de estresse e compará-los com a carga horária de trabalho dos mesmos. O cortisol é um hormônio glicocorticóide primário, sintetizado a partir do colesterol, que regula o metabolismo de carboidratos, proteínas e lípides. Além disso, mantém normal a pressão arterial e funciona como inibidor de reações alérgicas e inflamatórias.
A presença em excesso do cortisol é extremamente prejudicial à saúde. Em curto prazo, a resposta ao estresse pode ser benéfica, pois prepara o organismo para enfrentar situações adversas. No caso de estresse por longo período, a elevação do cortisol e a ativação do sistema nervoso simpático podem levar a consequências danosas ao organismo, tais como alterações cardiovasculares, metabólicas, da resposta imunológica, distúrbios do sono, queixas de dor no corpo, entre outras.
O estresse constitui-se em um risco ocupacional para os trabalhadores, por isso a importância de ser reconhecido precocemente. Apesar de o ambiente do hospital analisado (HCFMRP) oferecer muitos fatores estressantes, a maioria dos enfermeiros consegue lidar de forma adequada, fazendo com que esses fatores não interfiram significativamente na assistência ao paciente. Com relação à carga horária de trabalho semanal desenvolvida pelos enfermeiros deste estudo, 30,5% exerciam suas atividades por até 36 horas semanais, 51,6% por um período de 37 a 57 horas/semana e 17,9% por 58 a 78 horas semanais. No que diz respeito ao nível de estresse apresentado pelos enfermeiros pesquisados, 15,8% destes profissionais, apresentaram níveis baixos de estresse, 69,5%, níveis moderados e apenas 14,7% níveis altos.
Considerando que os profissionais da enfermagem são muito importantes no tratamento dos pacientes, principalmente nos setores de emergência, é necessário que se tenha um cuidado especial, no sentido de promoção da saúde e melhoria do desempenho profissional. “Mesmo que neste estudo a carga horária não se tenha correlacionado com o estresse, ela pode provocar fadiga e influenciar na ocorrência de erros, interferindo na qualidade da assistência aos pacientes”, relata a pesquisadora. “Portanto, a carga horária apresenta relevância no contexto da saúde do trabalhador”.
Com relação aos níveis de cortisol salivar encontrados a partir do estudo, verificou-se que não houve resultados acima do valor de referência para a normalidade. Não foi constatada correlação entre carga horária de trabalho e níveis de estresse ocupacional, reações fisiológicas do estresse e níveis de cortisol salivar. “A identificação de estressores no trabalho pode ser considerada agente de mudança”, ressalta Rita. “Uma vez identificados, os trabalhadores e gestores podem discuti-los e propor possíveis soluções para minimizar seus efeitos, os quais podem tornar o cotidiano dos enfermeiros mais produtivo, menos desgastante e, valorizá-los mais no que se refere aos aspectos humanos e profissionais”.