A inter-relação de elementos da cultura ocidental e oriental é um fenômeno comum na atual esfera geopolítica internacional. Seguindo essa lógica, a tradição é uma das subdivisões esportivas capazes de se alterar conforme os fatores exteriores e, ao mesmo tempo, manter elementos milenares. Com essa temática, o pesquisador Marcio Antonio Tralci Filho buscou as origens e diretrizes por trás desse quesito, tendo o Kung Fu como norte da análise.
O trabalho foi pautado em duas linhas de pesquisa – a história de mestres brasileiros e as tensões entre a tradição e o modelo esportivo. Para o autor, há no Ocidente “uma visão do esporte como ciência, sem considerar outras formas de ver o corpo”. O relato oral dos mestres, portanto, serviria como base para entender um pouco mais a questão da tradição dentro do esporte, tal como suas modificações e barreiras contra aspectos culturais exteriores.
As entrevistas com cinco mestres de diferentes vertentes do Kung Fu foram feitas ao longo de dois anos. A escolha dos entrevistados foi pautada a partir de uma análise das principais modalidades que vieram ao Brasil. Segundo Tralci, é interessante destacar que “cada uma dessas artes marciais têm características muito peculiares entre elas”. Esse fato foi pensado para dar visões diferentes sobre as questões tradicionais que permeiam cada uma dessas linhas.
Segundo um dos entrevistados por Tralci, “a tradição chinesa só é milenar porque ela está sempre mudando”. Isso, conforme explica o pesquisador, traduz o fato dos valores ainda serem atuais e criarem certa identidade com seus praticantes no atual sistema. O conflito a respeito dos valores tradicionais estaria centrado, na realidade, em uma disputa de discursos distintos entre si sobre os conceitos passados por gerações.
Dentro dessa esfera, temos aqueles que defendem a disseminação da arte marcial por meio do esporte e outros que preferem ver o Kung Fu sob uma perspectiva mais oriental, sem a esportivização presente na outra linha de pensamento. A Confederação Brasileira de Kung Fu/Wushu (CBKW) estima que há mais 100 mil praticantes no país, sendo que cerca de 5 mil estão filiados às 24 federações estaduais existentes.
Tralci, portanto, indica que as diversas linhas de prática e filosofia auxiliam a entender o que é a tradição. Porém, também demonstram a impossibilidade de defini-la, já que os vários discursos presentes não se anulam, mas caminham paralelamente entre si.