A periodontite é um tipo de doença periodontal, causada por bactérias presentes na boca e que possui seus danos acelerados por conta do tabagismo. A evolução desta patologia destrói o osso que sustenta o dente e deixa a raiz dentária cada vez mais exposta, danificando a sustentação a ponto de ocasionar a sua queda. Um dos tratamentos mais comuns é a remoção das placas bacterianas e do tártaro. Após este procedimento, a gengiva tende a voltar a se aderir ao esmalte dentário e o paciente consegue então um “ganho de inserção clínica”, impedindo a progressão da doença.
A aluna de doutorado da Faculdade de Odontologia (FO) da USP, Ecinele Francisca Rosa, realizou estudo para averiguar o quanto o tratamento para a periodontite pode ser beneficiado com a interrupção dos hábitos de tabagismo. Também foram avaliados quais outros fatores ligados à saúde bucal seriam determinantes para que os pacientes conseguissem, de fato, abandonar o cigarro.
O orientador da pesquisa “Efeitos da cessação do tabagismo no tratamento periodontal não cirúrgico: estudo prospectivo de 24 meses”, professor Cláudio Mendes Pannuti, explica que o Hospital Universitário possui um programa bastante completo para incentivar fumantes a abandonarem o vício. “É um laboratório anti-tabaco, onde é feito um tratamento multidisciplinar com médicos, psicólogos, cirurgiões-dentista e outros profissionais”. Ecinele contribuía com o projeto, lecionando palestras sobre os prejuízos da saúde bucal causados pelo cigarro e examinando os interessados. Os que possuíam doença periodontal eram convidados a ir até a FO para receberem o atendimento.
Inicialmente, 116 pacientes receberam tratamento. Ao fim de 12 meses, 68 ainda compunham o programa. No encerramento do estudo, que durou 24 meses, 61 dos integrantes tinham permanecido. A análise imediata destes dados conclui que o quadro de persistência em cessar o tabagismo é mais estável após o primeiro ano. Afinal, houve uma taxa de aproximadamente 42% de abandono da pesquisa em um ano em comparação com apenas 10% em dois.
O ganho de inserção clínica entre os pacientes que conseguiram parar de fumar foi bastante significativo, chegando a alcançar números próximos a 3 milímetros ou mais. O resultado, além de clinicamente positivo, é esteticamente relevante. Desta forma, incentiva o sujeito a permanecer longe do tabagismo de maneira eficaz, já que o seu efeito é mais palpável e menos abstrato que, por exemplo, a diminuição dos riscos de câncer de pulmão.
Pannuti afirma que a pesquisa mostra ainda a importância da relação entre o cirurgião-dentista e o paciente: “O tratamento periodontal é bem longo, é necessário um contato próximo com o paciente, assim conseguimos motivá-lo, falar de todos os malefícios que o cigarro faz e ao mesmo tempo, mostrar uma resposta visível”.
De todos os que ficaram no estudo até o fim de dois anos, 29,5% conseguiram, de fato, abandonar o vício. Um número significante em comparação a estudos semelhantes. A saúde bucal se mostra, portanto, um valioso artifício na luta contra o tabagismo, enquanto o uso do cigarro comprova um prejuízo para o tratamento da periodontite e, portanto, um favorecimento a perda de dentes por conta dessa doença.