Com a vertiginosa expansão do espaço urbano e a consciência de que a exploração massiva dos recursos naturais poderia trazer graves consequências ao planeta Terra, o discurso da sustentabilidade vem sendo atrelado a projetos urbanísticos e à própria forma de pensar as cidades no Brasil e na Europa.
No entanto, uma tese realizada na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP mostra que a ideologia ambientalista muitas vezes se contradiz ao modelo neoliberal que o sistema capitalista impôs ao padrão urbano nas últimas décadas.
Para chegar a essa conclusão, o pesquisador Fernando Pinto Ribeiro analisou o modelo europeu da “Cidade Sustentável”, com especial atenção aos écoquartiers (bairros sustentáveis), e projetos imobiliários no Brasil, sobretudo no aglomerado urbano de Florianópolis, que abarcam a temática sustentável.
“O movimento ambiental se fortalece ao questionar os modelos de desenvolvimento econômico praticados no período fordista”, diz Ribeiro, esclarecendo que, enquanto este modo de produção priorizava o progresso a qualquer custo, incluindo a dominação da natureza, o neoliberalismo do fim do século 20 traz a interdependência entre natureza e mercado – união que define o conceito de desenvolvimento sustentável e é apropriada por estratégias empresariais em diversos setores da economia.
Assim, o pesquisador decidiu limitar os discursos ambientalistas e neoliberais, que segundo ele “compreendem ideias excludentes entre si” mas “tendem a se complementar no espaço urbano,” abordando a complexidade da convivência nas cidades através de uma visão holística que classifica como verdadeiramente sustentável um modelo pautado pelo “equilíbrio entre o fator econômico, social e ambiental”, excluindo assim a apropriação econômica da preocupação ambientalista.
Para Ribeiro, porém, “a lógica de inversão do modelo atual só pode ser assegurada se pensada sob escala global.” Ele ressalta que o discurso sustentável não pode se materializar em ações locais, desconexas e “colonizadas pela economia.” Assim, somente rediscutindo o papel do Estado e priorizando o bem estar coletivo nas relações urbanas pode-se chegar a um estágio de sustentabilidade que seja bom tanto para o planeta quanto para a humanidade.