Estudos da área biológica afirmam que afrodescendentes possuem maior susceptibilidade a desenvolver hipertensão arterial. Lilian Kimura, pós-doutoranda do Instituto de Biociências (IB), pesquisa fatores genéticos que influenciam a doença em populações remanescentes de quilombos no Vale do Ribeira (SP). Além das questões hereditárias, há outras justificativas que podem explicar porque um tipo específico da população possui essa tendência.
Segundo Lilian, não há apenas um único gene que determina quais pessoas podem ter pressão arterial elevada. “Você tem múltiplos fatores com efeitos muito pequenos que, somados e multiplicados, podem estabelecer o quadro”, explica. A princípio, a interação genética é uma das principais causas e para o seu estudo, a pesquisadora investigou seis genes que, juntos, podiam ser agravantes. Um deles, o GNB3, é responsável pela sinalização celular que, acredita-se, está ligada à regulação da pressão arterial, podendo alterar até a retenção de sódio no corpo.
Além dos indícios genéticos, fatores ambientais já conhecidos, como fumo, álcool e estresse, podem impulsionar os casos de hipertensão, porém é difícil medir, em números exatos, sua influência. Uma das poucas constatações que podem ser feitas é que a alimentação se alterou conforme as gerações. Por serem populações semi-isoladas geograficamente, antigamente era mais difícil o acesso a alimentos industrializados (produtos com altas doses de sódio) e, hoje em dia, ele tem sido facilitado. Outra dificuldade é identificar a fonte do excesso de sódio, tendo em vista que o sal de cozinha não é a única fonte deste elemento.
Eles não são os únicos
A tendência a desenvolver certas doenças não é exclusividade dos afrodescendentes. Toda e qualquer população possui suas resistências e suas deficiências no organismo. Em todos esses casos, a questão evolutiva e as relações sociais não podem ser deixadas de fora como elementos agravantes. Segundo Lilian, na África as populações estavam adaptadas àquele tipo de ambiente e, quando elas migraram, se depararam com outro tipo de local onde, provavelmente, alimento, temperatura e necessidades eram diferentes. O acesso ao sódio também era mais restrito, resultando na adaptação genética para aumentar a retenção do nutriente no organismo. Além disso, questões sociais colaboraram para a alta incidência de hipertensão em afrodescendentes. “Grupos de populações africanas foram retirados forçadamente de seus locais de origem e realocados em novos ambientes, representando um grande fator de estresse”, diz a pesquisadora. “E quando essas populações encontraram esse novo ambiente, aqueles mais susceptíveis geneticamente tendem a manifestar a doença”, completa.
O Brasil é um mix
Segundo Lilian, as pesquisas nesta área da genética priorizavam principalmente amostras de populações europeias ou descendentes de Europeus, ou ainda populações asiáticas. Estudos com populações afrodescendentes eram e são mais escassos. “O que fizemos foi o contrário. Pegamos exatamente o miscigenado para tirar outros tipos de informação dessa população. Se a gente quer entender o que acontece com a população brasileira, a gente precisa buscar exatamente as pessoas que são miscigenadas, como é o caso dos remanescentes de quilombos”, completa.
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