ISSN 2359-5191

04/12/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 94 - Saúde - Faculdade de Saúde Pública
Grupos reflexivos para homens autores de violência dão bons resultados
Medida, que é sugerida pela Lei Maria da Penha, ajuda a mudar forma que homens agressores tratam mulheres
Reprodução

Segundo a Organização Mundial da Saúde, mais de um terço de todas as mulheres do mundo são vítimas de agressões físicas e sexuais. No Brasil, a Lei Maria da Penha, criada em 2006, foi um grande marco na luta contra a violência à mulher. Ela sugere, por exemplo, que homens autores de crimes leves (ameaça e lesão leve) participem de grupos reflexivos. Os grupos debatem a desigualdade entre homens e mulheres e visam desconstruir o machismo ainda presente nesses homens e na sociedade.

Na cidade São Paulo, a ONG Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde abriga um desses grupos. Ela recebe homens encaminhados pela justiça e tem o objetivo de os fazer refletir sobre violência, respeito e o ideal de homem presente na nossa sociedade. Paula Prates, psicóloga da ONG que comporta o grupo, explica que o ideal de homem forte, provedor e sem fraquezas tem relação com a violência, que acaba sendo uma forma de provar essa força. Paula acredita que um dos grandes problemas da violência é que ela acaba sendo transmitida como um valor. “Os meninos são socializados com violência e aprendem, na própria família, que a mulher é desvalorizada”, afirma Paula.

Em sua dissertação de doutorado pela Faculdade de Saúde Pública da USP, ela estudou o perfil dos homens participantes e os efeitos que o grupo causa neles. No começo, eles sentem-se injustiçados e agem como vítimas, não aceitando a pena judicial. Ao longo dos encontros, formados apenas por homens, é trabalhada a reflexão. A intenção é fazer com que, por meio das conversas, o homem se responsabilize pelo que fez e mude não só seu comportamento, mas seu pensamento à respeito da mulher.

Os resultados são positivos. A pesquisadora afirma que uma das juízas que costuma sugerir a participação dos homens no grupo, fez um estudo mostrando a baixa reincidência desses homens em novos casos de agressão. Segundo Paula, alguns deles continuam no grupo mesmo após o término das 16 sessões obrigatórias. O espaço para dialogar e conversar sobre os sentimentos é acolhedor: “homem não costuma conversar, então eles se identificam, acho que isso faz eles quererem ficar”, conta.

Apesar dos bons resultados que o grupo apresenta, frequentá-lo ainda não é uma obrigatoriedade da lei. Os juízes sugerem a participação e os acusados decidem se vão aderir ou não ao grupo. É importante lembrar que, mesmo com a participação no grupo, o processo contra o acusado continua correndo na justiça. Paula acredita que passar apenas por uma punição (como prisão) não é capaz de fazer o agressor refletir, e por isso os grupos são importantes. “A ideia é que o grupo seja uma politica pública, mais um recurso na luta contra a violência”, conclui.

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