ISSN 2359-5191

04/12/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 94 - Economia e Política - Instituto de Estudos Brasileiros
Estudo ressalta que figura ambígua de D. Pedro II revela aspectos importantes da política brasileira
Pesquisador percorre produção historiográfica sobre controverso monarca entre as décadas de 1920 e 1940 e conclui que sua trajetória explica visão que brasileiros têm da atividade política
D. Pedro II na década de 1850: livros eram presentes em seus retratos.

A dissertação Flores, algumas com espinhos, para o rei: controvérsias acerca de D. Pedro II (1920-1940), do pesquisador Lucas de Nicola, trata das ambiguidades que envolvem a figura de D. Pedro II, especialmente entre as décadas de 1920 e 1940. Estudando os diversos discursos sobre a imagem do monarca, o pesquisador conclui que delas é possível entender os aspectos controversos da política brasileira.

O poder do monarca é centrado em dois corpos, o corpo político legítimo e incontestável, e o corpo natural humano e que pode cometer equívocos. A partir da década de 1870, D. Pedro II assegurou seu corpo político na ciência e no conhecimento, ao invés de se legitimar na transcendência e nos fatores sagrados. O monarca passou a se sustentar pela imagem de homem sábio, “o que significa que não era dominado pelos interesses políticos ou pelas artimanhas do poder”.

Enquanto parte da historiografia admira o imperador pela valorização do conhecimento em detrimento das negociações políticas, outra parcela o critica por ser alienado, elitista e despreocupado. Entre os anos 1920 e 1940, D. Pedro II foi referência para reflexões sobre o regime republicano. Para alguns autores, o imperador era exemplo a ser seguido na República brasileira, enquanto que para outros o modelo de governo do passado tinha que ser superado. Oficialmente, D. Pedro II foi exaltado como uma das principais figuras do Estado nacional brasileiro.

O distanciamento de D. Pedro II das disputas políticas, favorecendo a ciência e o conhecimento, mostra como a política aparentemente apolítica é valorizada no Brasil. O pesquisador afirma que a política é extremamente mal vista pelos brasileiros, e que são muito fortes “os imaginários de que todo político é bandido e corrupto, de que o povo vota errado porque é ignorante, e de que não existe solução para os desmandos da politicagem”. Por esta razão, diversos políticos tentam suavizar suas imagens e discursos políticos.

Além disso, a ambigüidade de D. Pedro II revela que a formação do país ocorreu por meio de contradições que não podem ser resolvidas facilmente. Lucas afirma que “D. Pedro II não pode ser nem facilmente aceito e nem facilmente negado”. As duas facetas do monarca estão presentes na formação do Brasil, “revelam muito do que somos e do que podemos ser”.

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