A dissertação Flores, algumas com espinhos, para o rei: controvérsias acerca de D. Pedro II (1920-1940), do pesquisador Lucas de Nicola, trata das ambiguidades que envolvem a figura de D. Pedro II, especialmente entre as décadas de 1920 e 1940. Estudando os diversos discursos sobre a imagem do monarca, o pesquisador conclui que delas é possível entender os aspectos controversos da política brasileira.
O poder do monarca é centrado em dois corpos, o corpo político legítimo e incontestável, e o corpo natural humano e que pode cometer equívocos. A partir da década de 1870, D. Pedro II assegurou seu corpo político na ciência e no conhecimento, ao invés de se legitimar na transcendência e nos fatores sagrados. O monarca passou a se sustentar pela imagem de homem sábio, “o que significa que não era dominado pelos interesses políticos ou pelas artimanhas do poder”.
Enquanto parte da historiografia admira o imperador pela valorização do conhecimento em detrimento das negociações políticas, outra parcela o critica por ser alienado, elitista e despreocupado. Entre os anos 1920 e 1940, D. Pedro II foi referência para reflexões sobre o regime republicano. Para alguns autores, o imperador era exemplo a ser seguido na República brasileira, enquanto que para outros o modelo de governo do passado tinha que ser superado. Oficialmente, D. Pedro II foi exaltado como uma das principais figuras do Estado nacional brasileiro.
O distanciamento de D. Pedro II das disputas políticas, favorecendo a ciência e o conhecimento, mostra como a política aparentemente apolítica é valorizada no Brasil. O pesquisador afirma que a política é extremamente mal vista pelos brasileiros, e que são muito fortes “os imaginários de que todo político é bandido e corrupto, de que o povo vota errado porque é ignorante, e de que não existe solução para os desmandos da politicagem”. Por esta razão, diversos políticos tentam suavizar suas imagens e discursos políticos.
Além disso, a ambigüidade de D. Pedro II revela que a formação do país ocorreu por meio de contradições que não podem ser resolvidas facilmente. Lucas afirma que “D. Pedro II não pode ser nem facilmente aceito e nem facilmente negado”. As duas facetas do monarca estão presentes na formação do Brasil, “revelam muito do que somos e do que podemos ser”.