ISSN 2359-5191

04/12/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 94 - Arte e Cultura - Instituto de Física
Clássicos da literatura brasileira eram visados por editora americana
Casal de judeus nova iorquinos tornou-se responsável pela divulgação da cultura brasileira nos Estados Unidos
Alfred Knopf trabalhando em seu escritório

A literatura brasileira é conhecida mundialmente por sua estética, prestígio e qualidade. Contudo, é difícil manter essas características quando a obra é traduzida para outra língua. A editora Alfred A. Knopf Inc, criada em 1915 por Alfred e Blanche Knopf, foi responsável pela entrada da literatura brasileira nos Estados Unidos. Antonio Dimas, professor do Instituto de Estudos Brasileiros, apresentou sua pesquisa acerca de correspondências trocadas entre os editores e os autores no evento Artífices da Correspondência: teoria, metodologia e crítica na edição de cartas.

Graciliano Ramos e Jorge Amado foram dois dos autores divulgados nos EUA por essa casa editorial nos anos 50, 60 e 70. Em 1942, Blanche Knopf já tinha uma presença tímida no Brasil, mandando bilhetes curtos e rápidos para alguns autores. “Não há dívida de que a figura intelectual dentro da editora era ela. Sabia duas ou três línguas, fazia a circulação entra a América Latina e a Europa, procurava e fazia os contatos. Era uma mulher de extraordinária coragem, porque em plena guerra atravessou o Atlântico mais de uma vez, enfrentando todos os perigos para procurar intelectuais que poderiam ser publicados pela casa dela”, conta o pesquisador.

Alfred Knopf tinha um arquivo impressionante de documentos guardados. Eram 70 caixas só de Jorge Amado, com uma correspondência desde a mais profissional até a mais íntima. “No Natal de 50, Jorge estava exilado com duas crianças pequenas, passando por dificuldades, na Tchecoslováquia. Foi expulso do Brasil depois da constituinte e, militante ativo do partido comunista, escreve uma carta para o Alfred dizendo que precisava de dinheiro, um pouco insolente. Não existe linha reta num trabalho como esse. Cada documento que você vai vendo, você tropeça numa informação”, conta o palestrante.

Apesar do grande empenho em levar a cultura brasileira para outros países, nem todas as obras conseguiram alcançar a mesma grandiosidade quando traduzidas. A tradução de Grande Sertão Veredas foi um grande fracasso, pois mostrou-se impenetravel para os tradutores. “Fica claro que um texto, quando traduzido para uma língua estrangeira, seja ele ciência sociais ou ficção, não é apenas pelas suas rigorosas qualidades estéticas. Tem outros fatores de bastidores envolvendo essa publicação. Se fosse só por rigor estético, prestígio e qualidade, Grande Sertão Veredas teria feito um grande sucesso, porém um dos maiores fiascos foi justamente na língua inglesa”, conta o pesquisador.

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