São Paulo (AUN - USP) - Para muitas pessoas, aquela estante da sala de jantar que aparece na novela é mesmo só para ser cobiçada. Primeiro, porque o preço é só para o bolso das estrelas. Segundo, porque muita gente talvez nem tenha uma sala de jantar -e uma estante dessas não cabe nos cômodos de muitas casas. Essa situação, comumente enfrentada por pessoas de baixo poder aquisitivo, é a inspiração do projeto de Design e Industrialização do Mobiliário Popular. A meta é desenvolver móveis baratos, resistentes e de dimensões adequadas a espaços pequenos.
A coordenadora do projeto, a professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, Yvonne Mautner, conta que verificou esses problemas durante visitas que a equipe fez a moradias populares -como apartamentos da Cohab e da CDHU. O estudo de desse tipo de habitação está incluído no currículo da FAU. Uma das dificuldades enfrentadas pelos moradores dessas casas é a dimensão dos móveis. Os apartamentos populares têm cerca de 40m2, e muitas vezes são ocupados por uma família de quatro ou mais pessoas.
"Em geral, os móveis são maiores que o esperado para as habitações populares. Armários são fabricados com seis portas de 30 cm, para dar a impressão de que são maiores ", diz Yvonne. Em parceria com a Fapesp e com duas empresas privadas -a Oficina de Arte e Design e a Idéia Móvel-, o projeto de design popular propôs a criação de uma linha de móveis, a movelpop, que superasse esses problemas.
"Você luta com a qualidade, com o preço e com as dimensões", lembra a pesquisadora. Para burlar a lógica "se o preço é baixo, a qualidade também", o projeto procurou encontrar técnicas para diminuir o custo, sem diminuir a durabilidade dos materiais. Um exemplo é o uso de esquadrias nas portas feitas de aglomerado (material menos resistente e mais barato que madeira maciça, por isso muito usado em móveis populares). Sem bordas de aglomerado expostas, o armário é menos sujeito a desgastes e corrosões.
Outra preocupação é não revestir os armários com papéis ou outros artifícios que escondam o material utilizado. "As pessoas têm resistência em comprar móveis com o aglomerado exposto, acham que é mais frágil. Mas no mercado popular, os armários são feitos com esse material, só que revestidos. Queremos mostrar ao consumidor o que de verdade ele vai comprar, e que isso não é necessariamente ruim", completa Yvonne.
Luxo popular
Nem guarda-roupas nem camas. O primeiro produto da linha de móveis populares é uma cadeira de madeira maciça, que pode ser fixa ou de balanço. Ela já deve estar no mercado em 2006. Para definir a aceitação do produto, foram feitos dois "focus group", recurso utilizado para definir estratégias de mercado. Foram reunidas pessoas das classes menos b e c e apresentadas, a elas, catálogos de móveis, para entender quais as necessidades desse público. A cadeira, apesar de não ser um item de primeira necessidade, era apontada por muitos participantes da pesquisa.
Quanto ao custo, Yvonne diz que ele é baixo relativo à sua qualidade, mas prefere não revelá-lo. A cadeira é feita em eucalipto maciço. A madeira, de reflorestamento, causa menos danos ao meio ambiente.Apesar do aspecto "decorativo" do primeiro item da linha, Yvonne reafirma que a intenção do projeto é fabricar móveis populares."Não quero que seja chique, nem nada. Mas utilizar o design como instrumento de produção para projetar móveis úteis, de boa qualidade e com preços acessíveis".
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