Na atual esfera de competições de alto desempenho, várias estratégias e subterfúgios científicos são apresentados de modo a otimizar o desempenho de um atleta em torneios. Nas últimas décadas, novos uniformes, maiôs e acessórios foram desenvolvidos pelas fornecedoras de material, sempre em busca de tal fator. O pesquisador Fabiano Pinheiro, da Escola de Educação Física e Esportes (EEFE-USP), descobriu que o treinamento em ambientes privados de luz pode ser mais um meio para atingir essa otimização, já que tais condições possibilitam o treinamento psicológico do esportista.
No estudo, foram escolhidos, ao todo, onze ciclistas com pelo menos dois anos de experiência e doze voluntários fisicamente ativos. Primeiramente, os atletas foram submetidos a uma familiarização do exercício. A cada 20 km percorridos, os ciclistas reportavam o nível de esforço empenhado na atividade - além do nível de pensamento associado a ela -, de acordo com escalas já estabelecidas pelos pesquisadores. Já com os atletas amadores, o teste consistiu em fazê-los correr até a exaustão.
Após essa etapa, ambos os grupos tiveram que repetir a prática, porém sem o auxílio dos pesquisadores para reportar as distância ao longo do percurso. A ideia era avaliar a precisão dos atletas ao prever a que ponto estavam do circuito, tanto em ambientes claro quanto em locais bem iluminados.
Nos resultados, a única mudança perceptível foi justamente a alteração na predição, já que os profissionais pensavam estar em uma quilometragem abaixo da real. Em termos de desempenho, no entanto, nada foi alterado para eles. Segundo o pesquisador, os ciclistas parecem ter uma estratégia subconsciente que faz com que eles reduzam significativamente o pensamento associado ao esforço físico no escuro. Com isso, os atletas conseguiriam gerar uma potência média igual a de ambientes mais iluminados. Já com o outro grupo, o resultado foi oposto. No escuro, os esportistas considerados “amadores” tiveram maior percepção do esforço que estava sendo exigido pela atividade, o que acelerou seu ponto final e, consequentemente, diminui seu tempo de prova.
Para Fabiano Pinheiro, o resultado auxiliaria o profissional a treinar e melhorar sua capacidade de diminuir seus pensamentos em relação ao exercício: “é sugerido que atletas de alto nível conseguem modular sua mentalidade em relação ao exercício e, com isso, aumentar seu desempenho. Em um ambiente privado de luz, portanto, ele conseguiria trabalhar o psicológico e também melhorar a predição da distância”. Em relação aos amadores, no entanto, o pesquisador é enfático ao dizer que o treinamento não seria estimulante, o que não traria tanta aderência.