A cárie dentária é uma doença que ainda apresenta alta prevalência na infância e compromete a qualidade de vida dos pacientes. Um dos meios de tratar as lesões mais avançadas, com presença de cavidades, são as restaurações. O processo de restauração é popularmente conhecido como obturação e é feito justamente para, depois de uma limpeza, “tampar” a abertura apresentada. Os materiais utilizados para isso são diversos e possuem propriedades específicas. O amálgama, por exemplo, é reconhecido pela durabilidade enquanto a resina, pelo efeito estético.
Após a restauração, se o paciente não alterar seus hábitos de escovação e de ingestão de açucares, é normal que ele volte a apresentar lesões de cárie, e agora, também nas margens do material. Mais uma vez, a progressão é bastante prejudicial e, por isso, substitui-se a obturação. É necessário refazer todo o processo, além de retirar todo o conteúdo presente por conta da primeira intervenção.
Tamara Kerber Tedesco, aluna de pós-graduação da Faculdade de Odontologia (FO) da USP, em conjunto com Ana Flávia Calvo e com as professoras Mariana Braga e Daniela Raggio (orientadora do projeto), realizou uma revisão sistemática para comparar a eficácia do cimento de ionômero de vidro em prevenir lesões em margens dessas restaurações quando comparado aos outros materiais. O CIV tem a capacidade de liberar flúor, principal ferramenta na prevenção e paralisação da doença. Partindo disso, acreditava-se que o aparecimento de novas cáries próximas à restauração poderia ser evitado caso o material em questão fosse o escolhido na hora da obturação.
Em uma revisão sistemática, reúne-se, de acordo com critérios pré-estabelecidos, estudos que podem ser avaliados em conjunto para a obtenção de uma resposta geral. A pesquisadora levou em consideração aspectos como acompanhamento mínimo de um ano, avaliar lesão de cárie como um dos objetivos e, principalmente, apresentar o CIV sempre em comparação a outro material.
Cruzando todos os dados e resultados de sete pesquisas, a equipe conseguiu apresentar uma revisão sistemática bastante completa. Foi possível comprovar que, quando as lesões de cárie estão na região oclusal, ou seja, na parte “de cima” do dente, o uso do cimento de ionômero de vidro não apresentava diferença relevante se comparado aos outros materiais como a resina e o amálgama. Entretanto, no que diz respeito às restaurações ocluso-proximais, aquelas que incluem também as superfícies situadas entre os dentes, o CIV é significantemente associado com a capacidade de prevenção de lesões marginais. O difícil acesso a esta área, restrita ao fio dental, parece ser uma explicação para o benefício encontrado quando do uso de restaurações com este material.