ISSN 2359-5191

12/12/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 100 - Economia e Política - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
Gênero, escolaridade e renda influenciam perfil de voluntário
Estudo inédito investigou determinantes econométricos da oferta de trabalho voluntário no País
Determinante de maior importância foi a renda de outros moradores do domicílio do voluntário. IMAGEM: Adaptado de Instituto Ribera Baixa

 

Existem aproximadamente 208 mil pessoas que trabalham voluntariamente de forma sistemática no Brasil, o equivalente a 0,17% da população com 15 a 64 anos de idade. Eles são, em sua maioria, mulheres com alto nível de escolaridade, trabalham em média 21 horas semanais e mais de 20% deles realizam atividades em organizações religiosas e filosóficas.

 

Foi traçando o perfil dos voluntários no Brasil e investigando as determinantes econométricas da oferta de trabalho voluntário no país que Luísa de Azevedo Senra Soares desenvolveu um estudo inédito. A oferta de trabalho voluntário no Brasil foi o título de sua dissertação de mestrado, que teve orientação do professor Naercio Aquino Menezes Filho, do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), da Universidade de São Paulo (USP).

O estudo foi feito com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um levantamento anual por amostra de domicílios sobre a inserção da população no mercado de trabalho e suas características socioeconômicas. A identificação dos voluntários brasileiros tendo como base a PNAD é uma novidade, visto que a pesquisa não é voltada diretamente para esse tema.

Depois de identificar os voluntários, Soares buscou os determinantes da oferta de trabalho voluntário no país, a partir de dois modelos econométricos: o chamado probit, relativo à probabilidade de uma pessoa trabalhar voluntariamente, e o tobit, referente ao montante de horas de trabalho voluntário ofertadas. Os modelos utilizaram variáveis diversas, como idade, escolaridade e cor do voluntário, renda (salarial, de outras pessoas do domicílio e não proveniente do trabalho), convivência com cônjuge e existência de criança no domicílio.

As estimativas foram feitas para a população como um todo e para homens e mulheres separadamente. Segundo a pesquisadora, a divisão se deu pela identificação da diferença de inserção no mercado de trabalho e no voluntariado entre os gêneros.

Os modelos econométricos e a divisão das estimativas são aprofundamentos do estudo dos determinantes: “Por exemplo, (observa-se que) a maioria dos voluntários é mulher e que os voluntários têm maior escolaridade. Então, ao olhar esse cenário só com as estatísticas descritivas, não dá saber se é o fato de ser mulher ou o fato de ser mais escolarizado que está influenciando a pessoa a ser voluntária. A ideia dessa análise econométrica é separar o efeito de cada variável. Ou seja, separar o efeito de ser mulher, de anos de estudo, do número de pessoas no domicílio...”, explicou Soares.

De modo geral, o modelo probit se sobressaiu. Ou seja, a análise mostrou que os determinantes têm maior influência na escolha de ser voluntário do que no número de horas dedicadas à atividade. Os resultados apontaram “que pessoas com menores rendimentos potenciais do trabalho têm maior probabilidade de serem voluntárias e dedicam mais tempo de sua semana ao voluntariado. A oferta de trabalho voluntário também aumenta com a escolaridade e com a renda dos outros membros do domicílio. Além disso, diminui com a idade até cerca dos quarenta anos, quando passa, então, a crescer”.

O determinante de maior importância foi a renda de outros moradores do domicílio do voluntário. Segundo a pesquisadora, “quanto maior a renda dos outros moradores, maior a chance de você ser voluntário e mais horas você vai trabalhar voluntariamente. Isso é um resultado que se mantém: para homem, mulher, seja para as horas, seja para a probabilidade de ser voluntário”.

A renda não proveniente do trabalho foi positiva na decisão de trabalhar voluntariamente e no número de horas dedicadas para os homens. Já a presença de crianças na casa reduz a oferta de trabalho voluntário para as mulheres. De acordo com Soares, “esse quesito (crianças em casa) tem um efeito no voluntário de maneira geral. Mas ficou muito clara a diferença entre gêneros. A suposição foi intuitiva, mas a clareza dos dados nesse sentido é notável”.

Outro resultado de destaque foi a forte influência do salário entre as mulheres e o fraco efeito deste entre os homens. Segundo a pesquisadora “essa variável (abrir mão do salário para trabalhar voluntariamente) é chave no modelo. Isso não valer para os homens, ainda com a maior participação no mercado de trabalho, é uma surpresa”.

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