A escolha pela vasectomia é sempre complicada, visto que a cirurgia apresenta possibilidades bastante remotas de reversão. No entanto, ela vem ganhando cada vez mais adeptos no Brasil, influenciados por questões sociais e econômicas, mas também por questões particulares de cada casal. Através de sua dissertação de mestrado, defendida no Instituto de Psicologia da USP (IP/USP), a pesquisadora Cíntia Morinaga Honda procurou entender e explorar melhor os motivos subjetivos para essa escolha, muitas vezes inconscientes e não explorados em sua plenitude até mesmo por quem a faz.
A pesquisa foi realizada através de entrevistas psicológicas com dois casais na faixa etária em que a mulher se encontra mais fértil, entre 31 e 37 anos. Em comum, os entrevistados tinham a decisão já feita a respeito da cirurgia. Os motivos que os levaram a isso, no entanto, eram bastante diferentes, e, na maioria das vezes, abordados de maneira rasa. Através de conceitos emprestados da psicanálise de gênero e intersubjetiva, no entanto, a pesquisadora comenta as questões que surgiram, nem que de maneira sutil e "escondida", durante estas conversas. Entre um dos casais analisados, por exemplo, foi implicitamente transmitido que uma traição prévia trazia inseguranças de que um filho fora do casamento pudesse surgir eventualmente.
Em sua dissertação, a pesquisadora chama, também, atenção para outros fatores que contribuem para a maior atenção e o maior número de adeptos a essa cirurgia no Brasil atual. Dentre elas, destaca políticas públicas como a estabelecida pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) em 2008, que procurou estimular a cobertura da vasectomia e da laqueadura por parte de convênios de saúde particulares. Fora isso, Cíntia menciona também que as mudanças referentes às noções de gênero na sociedade brasileira também influenciam nesse quadro. "Entende-se que o modelo da família tradicional não é mais o prevalente na atualidade, e que as novas configurações familiares demandam reflexões sobre a escolha definitiva", explica. Mesmo com todos esses fatores, porém, ela relembra que os inconscientes são mais importantes na hora dessa escolha, usando para isso ideias como as defendidas pela pesquisadora brasileira Carmem Silvia Gama Foot Guimarães.