Analisar o processo de funcionamento de coalizações dentro do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Central (BC), tendo como enfoque os motivos pelos quais países somam seus votos para escolher um brasileiro para representar seus interesses nas instituições. Esse foi o tema central da dissertação de mestrado defendida por Laerte Apolinário Júnior, no Instituto de Relações Internacionais da USP.
O pesquisador justifica sua escolha do caso brasileiro como central para o trabalho através da singularidade da atuação desse país em seu bloco nas instituições nos útimos tempos. Em primeiro lugar, o Brasil só ganhou voz efetiva dentro dos órgãos nos últimos anos, quando passou de devedor para credor do Banco Mundial. Isso fez com que a importância brasileira nesse cenário esteja em franco crescimento, sendo agora o momento ideal para o estudo do caso. Além disso, o Brasil faz parte dos países emergentes que almejam aumentar seu poder dentro do FMI e do BC, o que leva a necessidade da elaboração de estratégias para que a influência do país cresça. A mais notória dentre essas estratégias é a da barganha feita entre o Brasil e países pobres que são membros do bloco brasileiro: fornece-se, de forma implícita, ajuda econômica em troca de apoio político.
Para Laerte, há uma forte correlação entre fornecimento de ajuda externa para países pobres e apoio político nas coalizações brasileiras no FMI e no BC. O mestrando concluiu, após uma série de pesquisas e análise de dados comparativos, que o governo brasileiro tem uma tendência maior a auxiliar países que apoiam sua coalização. Isso confirma a hipótese de que os Estados membros mais pobres trocam apoio político por ajuda econômica. Além disso, essa conclusão coloca fortemente em cheque a legitimidade das instituições, uma vez que os países usariam de seu poderio econômico para alcançar as ambições políticas na governança desses órgãos internacionais.
O mestrando conclui o trabalho afirmando que há a necessidade de se pesquisar mais a respeito dessa relação entre ajuda externa fornecida pelo Brasil e apoio político dos países pobres nas coalizações brasileiras. De acordo com Laerte, o Brasil só começou a auxiliar países pobres no primeiro governo Lula, em 2004. Antes disso, todavia, os Estados auxiliados pelo governo brasileiro já participavam da coalização brasileira nas instituições. Sendo assim, os dados obtidos na pesquisa demonstram que a ajuda econômica brasileira foi destinada, em grande parte, aos países que faziam parte dessas coalizações, sendo eles, então, recompensados por esse apoio político. No entanto, segundo o mestrando, a pesquisa não explica o porquê do apoio ao Brasil em momentos anteriores.