Em uma metrópole do porte de São Paulo, onde as desigualdades socioeconômicas fragmentam o espaço urbano, as habitações sociais são intervenções pontuais que, se corretamente desenvolvidas e aplicadas, integram os moradores à cidade caótica.
Mas, para isso, há um longo caminho pela frente, como atestou a pesquisadora Renata Coradin com a dissertação Habitar social: a produção contemporânea na cidade de São Paulo, pelo programa de mestrado da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
Motivada por estudos no exterior e pela participação em concursos de ideias ligados a habitação social, Renata escolheu quatro objetos de análise para seu estudo: os projetos de conjuntos habitacionais Comandante Taylor, Jardim Edite, Parque Novo Santo Amaro V e Real Parque. Todos na Capital paulista, igualmente recentes, reconhecidos e diversificados, focados na realocação de moradores de área de risco e na revitalização das regiões.
Interpretando o entorno
Contratados juntos a diferentes empresas de arquitetura pela Secretaria de Habitação de São Paulo, os projetos analisados por Renata se localizam nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do município. Situado no bairro de Heliópolis, o conjunto Comandante Taylor é um dos mais densos, com 1.092 habitantes por hectare, o que culminou num projeto com paisagismo e áreas de lazer escassas. Já no Real Parque, apesar da densidade ainda maior (1.268 habitantes por hectare), a pesquisadora aponta que houve a revitalização de grande parte do terreno, onde antes havia uma favela, mas que se trata de um bairro com disparidades sociais muito grandes e ainda não resolvidas.
No Jardim Edite não é muito diferente. Localizada junto à avenida Jornalista Roberto Marinho (ex-Água Espraiada), a comunidade se estendia desde os anos 1970 pela região onde hoje se concentra uma região empresarial de São Paulo, e cujo desenvolvimento removeu, ao longo do tempo, diversos trechos da favela. Renata ressalta que houve a preocupação, nesse projeto, de identificar seu entorno e integrá-lo ao conjunto habitacional, o que se traduz na disposição arquitetônica dos prédios construídos, que se assemelha às construções empresariais. Já em Santo Amaro V, a construção de novos edifícios acompanhou a urbanização e integração da área já existente, o que, embora priorizasse áreas de lazer e convivência, gerou conflitos entre moradores.
Tensões na vizinhança
Renata admite que, nos conjuntos habitacionais, “os conflitos são inevitáveis, principalmente com relação à manutenção e gestão dos espaços.” No caso de Santo Amaro V, a atenção especial às áreas comuns gerou, paradoxalmente, conflitos entre moradores que passaram a morar nos novos prédios e aqueles que seguiram vivendo nos entornos. Para ela, uma presença mais atuante do poder público e o processos participativos dos moradores no projeto dos conjuntos podem nortear soluções para esse problema.
A pesquisadora reconhece que os moradores se envolveram no desenvolvimento do projeto, mas de forma insuficiente. Após se debruçar sobre os diferentes conjuntos habitacionais, ela diz que essa preocupação deve ser central para que os projetos se desenvolvam ainda mais.