ISSN 2359-5191

14/10/2005 - Ano: 38 - Edição Nº: 17 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Estudos Avançados
Amazônia inusitada contra Amazônia devastada

São Paulo (AUN - USP) - O que existe em 1Km² de uma floresta tropical? Diversas espécies de plantas e animais. Basicamente! Talvez o trecho de algum rio. Mas sejamos minuciosos (ou mais corretos). Junto deste universo visível, existe ainda um mundo pequeno. Insetos, fungos, liquens, bactérias. E se a tal floresta tropical se tratar da Amazônia? Isolados e de difícil acesso, o que escondem os quilômetros quadrados – alguns deles selvagens – da floresta amazônica? Já sob uma nova perspectiva, a da devastação, não perguntaremos o que existe, mas, sim, quanto se perde nesse mesmo pedaço de terra?

O Instituto de Estudos Avançados da USP (IEA/USP) realizou um amplo estudo sobre a Amazônia, abordando aspectos sócio-econômicos, históricos e culturais. O dossiê “Amazônia brasileira” começou a ser publicado no começo do ano na revista Estudos Avançados. A segunda parte foi lançada recentemente pelo IEA, na edição 54 da revista. Durante o lançamento, o biólogo Peter Mann de Toledo, pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), do qual foi diretor de1999 a 2005, apresentou conferência sobre “Estratégias para evitar a perda de biodiversidade na Amazônia”. Toledo é autor de artigo homônimo publicado na revista, assinado em parceria com Ima Célia Guimarães Vieira, pesquisadora do MPEG, e José Maria Cardoso da Silva, vice-presidente de Ciência da Conservação Internacional.

Amazônia inusitada

A Amazônia brasileira ainda revela muitas surpresas aos cientistas. Nos últimos dois anos, foram descobertas três espécies novas de aves, duas de serpentes e uma nova de primata. A revelação é do ex-diretor do MPEG, que pergunta: “Se analisarmos outros biomas do mundo, quantas espécies novas encontraremos? Quase nada!”

Toledo apresenta dados que evidenciam a biodiversidade amazônica. A área pode ser divida em 23 ecorregiões, cada uma delas com processos de ocupação e de uso distintos. Isso significa que qualquer intervenção na Amazônia deve considerar as peculiaridades de todas essas regiões. Essa biodiversidade carrega um potencial integrado, seja acadêmico, pelas pesquisas tanto de espécies com ocorrência exclusiva na região quanto das espécies novas, seja econômico, especialmente a indústria farmacêutica. “A perda de biodiversidade é a principal conseqüência do desflorestamento na Amazônia e é, também, totalmente irreversível.”

Amazônia devastada

Em 2004, cerca de 26 mil km² foram devastados na Amazônia brasileira. O movimento avança principalmente pelo Mato Grosso, estado que apresenta 28% de sua superfície original modificada. O número 26 mil é grande, mas ainda esconde a tragédia. O professor Toledo, então, descreve o que existe em cada quilômetro quadrado amazônico. Segundo estudos sobre primatas feitos em Rondônia, Pará e Mato Grosso, os estados que mais sofrem com o desmatamento, existem cerca de 35 a 81 desses espécimes por quilômetro quadrado. Se esse valor for multiplicado pelos 26 mil da devastação, estima-se que, junto com a floresta, sumiram de 915 mil a mais de 2 milhões de primatas. Se analisarmos o caso das aves, o desaparecimento varia de 43 a 50 milhões. Já o organismo mais afetado, as plantas, considerando apenas as árvores com diâmetro maior que 10 cm, a perda pode chegar a um bilhão e meio. Sem falar em anfíbios, répteis, insetos, fungos... “Dá pra imaginar o quanto se perde em cada quilômetro quadrado devastado?”, lembra Toledo. E esse sumiço todo ocorreu apenas no ano passado.

Pela Amazônia inusitada: desmatamento zero!

Se mesmo com poucas instituições de pesquisa e cientistas, ainda são descobertos novos organismos, Toledo imagina quantos mais não surgiriam se ocorresse um processo de ocupação racional. Mas, para isso, a floresta precisa ser conservada.

A idéia é simples. Como os benefícios conquistados com a exploração da floresta são menores do que os prejuízos causados, argumento algum justifica a substituição da cobertura florestal por outras formas de uso da terra. Para Toledo, as licenças de desmatamento desconhecem a importância – estratégica, inclusive – de preservar o patrimônio biológico brasileiro. Portanto, desmatamento zero! O projeto, no entanto, esbarra em adversidades políticas e interesses econômicos, o que limita a ação governamental.

Para a ocupação racional, propõe-se a elaboração de uma nova economia regional, baseada na descentralização da informação e do conhecimento, hoje limitados a alguns institutos de pesquisa. Inicialmente deve ser realizada uma extensa coleta de informações para, depois de ser organizada, ser disseminada pelo território amazônico. A formação de recursos humanos conectados às necessidades da região – e espalhados nela – manteria a descentralização das informações. “Se tivermos todo esse conhecimento, será que substituiríamos a floresta pela soja? Alcançaríamos uma resposta sustentável?” Ao mesmo tempo em que se pergunta, o biólogo imagina um futuro melhor para a Amazônia.

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