ISSN 2359-5191

14/10/2005 - Ano: 38 - Edição Nº: 17 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Física
Cientista questiona existência da verdade nas ciências exatas

São Paulo (AUN - USP) - As ciências exatas podem não ser tão exatas assim. Pelo menos essa é a questão que o professor Osvaldo Pessoa Jr., da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, levantou na sua palestra “O Progresso da Ciência”, realizada na quarta-feira 5, no Instituto de Física. A palestra faz parte da programação das Jornadas de Física, evento anual do instituto, que nesta edição está focado em refletir sobre a filosofia e a história das ciências.

Embora possa parecer chocante para quem está de fora do meio acadêmico, a idéia é antiga: foi proposta em 1962 pelo físico e historiador da ciência Thomas Kuhn, em seu livro A estrutura das revoluções científicas, e tem causado furor entre pesquisadores e cientistas desde então.

De acordo com Pessoa, que é graduado em filosofia e em física pela USP, a teoria de Kuhn afirma que as ciências se desenvolvem a partir de paradigmas, ou conjunto de teorias. Um conjunto de teorias dominante, que explicaria os fenômenos conhecidos, como a física de Newton, eventualmente apresentaria anomalias, ou seja, problemas que seria incapaz de resolver, como ocorreu com a natureza da luz, no final do século XIX. Novas teorias começariam a surgir para tentar explicar o fenômeno, e uma delas seria escolhida pela comunidade científica, tornando-se o novo paradigma dominante, caso da teoria de Einstein sobre o efeito fotoelétrico, que explicou que a luz se comporta como onda em certos casos e como partícula em outros.

A polêmica surge quando Kuhn afirma que a ciência não necessariamente caminha na direção de uma verdade absoluta, e que a escolha dos novos paradigmas não é feita por critérios exclusivamente objetivos, sendo influenciada também por questões sociais, políticas e ideológicas. “Uma teoria que foi dada como falsa no passado pode retornar como verdadeira”, diz Pessoa, explicando que, por isso, é importante para a ciência estudar as chamadas teorias marginais, que foram deixadas de lado em nome de outras teorias.

Um exemplo, afirma Pessoa, seria a Mecânica Relacional, uma reformulação da Mecânica de Newton que considera que a força que age sobre dois corpos depende da velocidade relativa entre eles. A Mecânica Relacional não foi levada adiante por ter sido suplantada pela Teoria da Relatividade de Einstein. Quando veio ao Brasil, em 1919, para assistir ao eclipse em Sobral, Einstein usou o deslocamento das estrelas que ficam ao redor do Sol para ratificar sua teoria. Porém, o fenômeno também teria sido explicado pela Mecânica Relacional.

Segundo Pessoa, Kuhn argumenta que nenhuma das duas teorias está mais ou menos próxima da “verdade”. Diferentes teorias podem surgir explicando os mesmos fenômenos, vendo-os sob paradigmas diferentes.

Como se daria o progresso da ciência, então? O importante é que, de acordo com Pessoa, “as novas teorias são sempre melhores que as antigas”. Melhores não porque se aproximariam da verdade, e sim porque incorporariam fenômenos novos, não explicados pelas teorias anteriores. Assim, a ciência sempre evoluiria, sem a necessidade de uma verdade absoluta.

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