Pedro Henrique Martins Valério é mestre em Educação Física e capoeirista. Não coincidentemente a sua tese de dissertação é sobre capoeira, seu início histórico e suas interações sociais. Para ele, dentro da visão ocidental, a capoeira não é um esporte - mas talvez o problema não seja o modo que ela é praticada.
A teoria mais aceita para explicar o surgimento dessa modalidade segundo o pesquisador é a de que ela seria o fruto de cruzamentos e do diálogo que várias etnias tiveram durante o período escravocrata o Brasil. De lá para cá, a capoeira já foi até proibida por ser considerada uma ameaça à ordem, mas nada conseguiu parar essa prática tão importante para a nossa identidade cultural.
Pedro Henrique explica que a capoeira não se encaixa nos padrões ocidentais de esporte, já que não há um vencedor e um perdedor. Por isso, é muito comum pessoas chamarem a capoeira de dança, de luta ou de uma mistura de dança e luta. Há uma grande dificuldade de definirmos a capoeira. “A capoeira se manifesta, não tem uma pré-definiçao de como é o jogo, nao tem como saber o que vai acontecer”, conta o pesquisador. Ele exalta a possibilidade do imprevisto e a improvisação da capoeira. “A capoeira vai para além das dicotomias: dança e luta, ataque e defesa”.
Para fazer sua pesquisa, Pedro conversou com 15 mestres de capoeira das principais vertentes para tentar entender as tradições que envolvem o jogo, mas a conclusão é de que ela é extremamente volátil e plural. “Não posso dizer que defini e fechei: ‘a tradição da capoeira é isso’. Eu posso dizer que eu levanto indícios e traços essenciais que constituem a tradição da capoeira”, explica o pesquisador.
Como as tradições orais, os contos de roda passam de geração para geração, tão imprevisíveis e improvisadas como a própria capoeira.