Pesquisa do Instituto de Biociências (IB) mostrou que o desmatamento e a ausência de corredores florestais, faixas estreitas de mata, podem acarretar na extinção local de espécies de aves mais sensíveis. Sabe-se também que cursos d’água também podem ser prejudicados devido ao consequente assoreamento das margens.
Corredores florestais são responsáveis por algumas funções que auxiliam na manutenção da biodiversidade. A primeira está relacionada à conexão entre fragmentos de mata, para que espécies que não tenham capacidade de se deslocar em áreas abertas possam se locomover. A segunda função que essas estruturas cumprem é proporcionar habitat para animais de bordas de matas, além de preservar os cursos-d’água. Segundo a pesquisa de Carlos Candia-Gallardo, que observou como as aves reagiam a essas alterações ambientais no Planalto Paulista, existem espécies que, por incrível que pareça, não conseguem atravessar áreas abertas, seja por restrições físicas ou até mesmo de comportamento. “Esse é o tipo de espécie que, acredita-se, possa ser beneficiado pelos corredores”, explica Gallardo.
O tamanho da consequência
Corredores florestais podem ser cultivados por grupos de pesquisas e ONGs visando ao bem da biodiversidade, ou serem remanescentes da vegetação original. “Eles podem ser usados para dividir propriedades e estão sujeitos a impactos, tais como entrada de gado e retirada de madeira para se fazer mourões”, afirma o pesquisador. Segundo Gallardo, a lei protege os corredores ao longo dos cursos d’água, porém não devido aos benefícios que pode trazer à fauna, mas sim pela manutenção dos leitos dos rios.
O desmatamento causa redução nas larguras dos corredores e, consequentemente, influencia nos tipos de animais encontrados. A pesquisa apontou que em corredores mais largos (acima de 90 metros), há a presença de espécies típicas de interior de mata, que são mais sensíveis e mais difíceis de serem encontradas. Em corredores mais estreitos (abaixo de 90 metros de largura), os animais encontrados são mais generalistas e resistentes às hostilidades do ambiente, como o calor causado pela falta de arborização. Portanto, corredores eficientes para conservar aves deveriam ter no mínimo 90 m de largura.
Sem reprodução
A proporção de fêmeas e machos também pode ser afetada por efeitos antrópicos. Para chegar à esta conclusão, o pesquisador testou o comportamento da ave olho-de-fogo-do-sul (Pyriglena leucoptera) na ausência de corredores. Constatou-se que, nessas condições, os machos praticamente não se deslocam entre os fragmentos e, quando atravessam, são predados por aves de rapina. Em relação às fêmeas, existe o deslocamento, sugerindo que em fragmentos de mata muito isolados pode ocorrer uma mudança na razão entre os sexos e que nos fragmentos conectados por corredores há mais chances de se receber imigrantes, no caso da espécie estudada. Com o isolamento, os indivíduos começam a se reproduzir com parentes, aumentando a chance de ocorrência de alelos deletérios e enfraquecendo a população. “Suponha uma situação onde só há machos e não fêmeas [ou vice-versa] em um fragmento de mata. Isso pode ser um mecanismo sutil onde, na ausência de imigrantes do sexo oposto, esta população está fadada a se extinguir localmente”, concluiu Gallardo.
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