O professor . Laurence Chalip, da Universidade de Illinois, acredita que essa história de legado dos megaeventos é mais do que um mito: é uma mentira. Ele defende que esses grandes campeonatos esportivos manipulam nossa memória em favor de seus organizadores.
“Para além da compreensão de legado” fechou um ciclo de 12 conferências e mesas-redondas na Escola de Educação Física e Esportes (EEFE) falando de um lado dos megaeventos que pouco se falou: as memórias. Chalip começa explicando que nossas memórias estão ligadas diretamente a mitos, que são criados pela mídia, pela organização e pelos patrocinadores.
O professor cita o caso das Olimpíadas de Londres, quando a principal patrocinadora era uma marca de produtos domésticos. A marca então fez a emissora oficial chamar em seus programas as mães dos jogadores, glorificando-as e passando a impressão de que sem elas seus filhos jamais estariam nas Olimpíadas. Como resultado, mais donas de casa se identificavam emocionalmente com aquelas mulheres e passaram a assistir mais televisão, no canal justamente no qual a marca anunciava seus produtos. Chalip defende, então que nosso processo de memória está sob forças que não podemos controlar, principalmente as memórias afetivas. Ele questiona ainda: “De quem será a memória oficial? De quem será a memória que será mostrada nos museus?”. A memória que temos dos grandes eventos será a memória que os “poderosos” querem que tenhamos e não conseguimos fugir disso.
Em seguida, o professor critica o “mito do legado” que o Comitê Olimpico Internacional usa para arrancar bilhões de dólares dos cofres públicos da cidade-sede. Ele diz que, acreditando que a Olimpíada deixará um legado, a cidade-sede julga vantajoso investir esse dinheiro para abrigar o evento. Para ele, por exemplo, um dos legados dos Jogos do Rio de 2016 poderia ser o incentivo para uma educação física melhor no Brasil. Seria um benefício que nós não teríamos sem as Olimpíadas, porém a realidade é outra. Segundo Chalip, os Jogos só vêm trazendo dívidas para as suas cidades-sede nas últimas três décadas. Quem se beneficia, segundo ele, são as pessoas que detém esse fluxo de dinheiro movimentado pela Olimpíada - cerca de 100 bilhões de dólares. Dessa forma, explica o professor, os megaeventos só servem para aumentar e estender o poder do dinheiro como único legado . Para o povo, sobram apenas os débitos, as dívidas.
2016 está chegando e é nossa função também fiscalizar o governo e os poderes envolvidos nesse jogo que ocorre fora dos estádios e arenas: o da política.