A prática do bullying em escolas, mesmo costumando estar em pauta na mídia e em discussões pedagógicas, consegue passar despercebida por muitos professores em suas salas de aula. Até mesmo os problemas psicológicos que podem afligir a mente das vítimas desse tipo de interação chegam a ter sintomas discretos demais para que os educadores consigam se conscientizar e ajudar o aluno a superar o problema. A sugestão do pesquisador Felipe Alkmin Carvalho é a de que os profissionais da área sejam treinados no sentido não só de perceber, como também de ajudar no tratamento e na solução desse problema tão comum mas também tão prejudicial ao ambiente escolar.
Em estudo pioneiro no Brasil, Alkmin procurou mapear, entender e encontrar soluções para casos de bullying em escolas públicas paulistas. Para isso, fez uso de versões adaptadas à realidade brasileira de testes como o Youth Self Report/ 11-18 (YSR) e o Teacher Report Form, procurando ouvir de estudantes (que fossem ou não vítimas da prática) e de seus respectivos professores opiniões e histórias relacionadas a essa hostilidade. Através do estudo, o pesquisador obteve dados que indicam uma forte relação entre ambientes familiares conflituosos e a criação de crianças que, contrariamente ao que se pode pensar, não são os praticantes do bullying, mas sim aqueles que, por se encontrarem em situação de fragilidade maior, possuem maior propensão para ser tornarem vítimas desse tipo de violência. Segundo o psiquiatra Michael Rutter, como explica Alkmin, a adversidade familiar é um fator já conhecido a influenciar o surgimento de vítimas de bullying. Uma das iniciativas que podem ajudar na prevenção desse tipo de fragilidade infantil, como aponta o pesquisador brasileiro, é a de promover cursos de habilidades social para pais e cuidadores de crianças. De acordo com ele, esse tipo de iniciativa, junto com um preparo maior dos professores em sala de aula, pode ter implicações como a diminuição no número de suicídios entre jovens e de casos de problemas psicológicos, no futuro - diminuindo custos da área da saúde.
Apesar das indicações a respeito dos cursos e de políticas públicas que incentivasse a conscientização entre esses profissionais e os pais de jovens estudantes, Alkmin não encontra, em seu estudo, uma resposta definitiva a essa prática tão prejudicial. Pelo contrário, diz esperar que sua pesquisa, uma das primeiras do ramo no Brasil, incentive ainda outras, e ajude justamente na conscientização a respeito da gravidade do problema -- principalmente para os professores, que o têm todos os dias debaixo de seus narizes.