Artista, médico, autor de três livros sobre crítica de arte e de um conjunto significativo de telas. Atualmente possui duas obras na Pinacoteca do Estado de São Paulo e algumas no Museu de Pernambuco. É de se questionar o por quê do artista alagoano Virgílio Maurício, mesmo com todos esses méritos, ser tão pouco conhecido no Brasil.
Durante o “I Encontro de Pós-Graduandos do IEB”, realizado no próprio Instituto de Estudos Brasileiros da USP, Gabriela Rodrigues Pessoa de Oliveira tratou de sua pesquisa a cerca do artista. “Quando eu comecei a pesquisa, pensei se esse artista realmente existiu. Porém ele foi totalmente citado, além de deixar um arquivo com 11 livros de recortes onde aparece seu nome na crítica, na medicina e na pintura. Então não é uma questão de que no seu contexto ele era desconhecido”, conta a pesquisadora.
Virgílio Maurício nasceu em 1892 e morreu em 1937, portanto teve uma vida relativamente curta, apesar de ter conseguido produzir muito. Seu aprendizado começou com 15 anos em Alagoas, sendo o pintor Rosalvo Ribeiro seu mestre. “Os primeiros comentários na crítica para Virgílio Maurício começaram a aparecer em 1910, quando ele faz uma exposição no Liceu Alagoano. Em 1911, ele vai fazer exposições tanto em São Paulo quanto no Rio. A presença dele não passou tão despercebida assim”, explica Gabriela.
Em 1912, o artista foi para a França com recursos próprios. Não há indícios de que ele tenha procurado algum ateliê, porém há especulações de que estudou com artistas. “Nesse momento ele faz uma opção que pra mim é muito importante: a pintura de nus. Até 1937 vai produzir esse tipo de pintura. Ele envia pro Salão e para os artistas franceses o “Après le revê”, que em português significa “Depois do sonho”, quadro que movimentou a imprensa francesa. Com esse quadro ele ganha a terceira medalha do Salão em 1913, e também obteve menções na imprensa”, explica a pesquisadora.
Um dos problemas enfrentados por Virgílio Maurício foi a especulação de que as obras assinadas por ele não eram de sua autoria. Oswald de Andrade vai se pronunciar em 1926 sobre esse tema: “Grande briga se estabeleceu em torno dos quadros do senhor Virgílio Maurício. São dele. Não são. São. Não são. Bolas! Sejam ou não sejam, a verdade é que as telas são tão ruins que só podem desmoralizar o autor delas.” Isso mostra a falta de aceitação que o artista enfrentou por parte de alguns intelectuais. Para Oswald, a autoria era o que menos importava, já que o próprio gênero do artista já era desqualificado.
Outra questão é o destino da obra. Seria de se esperar que a obra de destaque “Après le revê”, vencedora da terceira medalha no Salão francês, fosse um grande alvo de compradores e museus quando chegasse ao Brasil. Contudo, não foi isso o que aconteceu. “Essa tela ficou com a família do artista, e só saiu dessa posse quando a família a ofereceu como doação para a Pinacoteca do Estado, assim como outras duas pinturas de nu também de destaque na carreira dele para o Museu de Pernambuco. Podemos pensar nos motivos dessa questão de não aceitar o Virgílio Maurício enquanto artista”, conta Gabriela.