Os ambientes humanos pensados e criados com cautela são peça-chave no processo de elaboração emocional de jovens que presenciaram a morte de um companheiro de idade próxima. Nesse sentido, é essencial tanto o preparo adequado de profissionais que lidem com eles, quanto o desenvolvimento de novas propostas nas áreas social, educacional e até clínica pelas quais esses adolescentes transitam. Em sua dissertação de mestrado, defendida no Instituto de Psicologia (IP) em 2014, Tomíris Forner Barcelos procurou investigar psicanaliticamente a experiência emocional de jovens que enfrentam esse tipo de situação. As conclusões do estudo demonstram que, de fato, a recuperação é dificultada sem a existência de um ambiente saudável. Além disso, para aqueles que vivenciam de forma mais frequente um acontecimento como esse, a tendência é a de interpretá-lo como confirmação de desesperança que já se tem a respeito do futuro.
A pesquisa, realizada através de visitas institucionais e de uma entrevista coletiva, se deu em uma ONG voltada ao cuidado de adolescentes em favelas. Pouco tempo antes do início das investigações, uma das frequentadoras da instituição sofreu um acidente, ficou em coma e veio a falecer. Por conta disso, apesar do teor completamente livre sugerido pela psicóloga, a conversa grupal teve seus cursos predominantemente demarcados. Além de falar, os jovens, de 14 a 16 anos, também foram convidados a confeccionar desenhos com histórias. “Solicitei que fizessem dois desenhos diferentes: um sobre o tema ‘Um adolescente dos dias de hoje’ e outro sobre o tema ‘Esse adolescente daqui a dez anos’”, conta Tomíris. Dentre os resultados, pôde verificar, de forma indireta em sua maioria, o tema da morte da colega em alguns, e de outros temas comuns à adolescência nos demais. A partir desse encontro e das visitas, a pesquisadora redigiu os relatos, em forma de narrativas transferenciais, que serviram de base para sua pesquisa teórica.
Analisando os dados obtidos na investigação, Tomíris conseguiu encontrar interpretivamente quatro campos de sentido afetivo-emocional pelos quais os participantes daquela ONG transitavam: Quem será o próximo?, Preso no acontecer, Mais do mesmo e Por nossa conta e risco. Reforçando a noção de desânimo em relação ao futuro, esses campos, segundo a pesquisadora, indicam que o ambiente no qual esses adolescentes estão inseridos não tem recursos suficientemente acolhedores que lhes proporcione o encontro de saídas para seus sofrimentos. “Apesar de não ser nosso objetivo, nesta pesquisa, verificar a eficácia clínica do encontro, conseguimos observar que o acolhimento atento e cuidadoso oferecido aos jovens possibilitou que eles transitassem entre diferentes sentimentos, emoções e fantasias”, diz Tomíris. Baseada nos conceitos de D. W. Winicott, ela explica que é essa possibilidade de exploração de sentimentos e a criatividade que permitem que o jovem amadureça e consiga encontrar, justamente, essas saídas para suas angústias e seus sofrimentos.