São Paulo (AUN - USP) - Os Seminários Acadêmicos das Quintas-feiras, promovidos pelo Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), acontecem há mais de 20 anos e são uma possibilidade da comunidade em geral entrar em contato com a Universidade de São Paulo (USP). “Já é uma tradição”, afirma seu atual organizador Gilberto Tadeu Lima. Recentemente, a professora Maria Cristina Cacciamali foi convidada a discutir importantes temas relativos à economia do trabalho, para isso expôs “Dois trabalhos sobre direitos humanos no trabalho: discriminação por gênero e raça e erradicação do trabalho infantil”. Os estudos, além de mostrarem dados números e gráficos que comprovam a situação brasileira, levam a uma reflexão mais profunda sobre o que é discriminação.
Não faz muito tempo, começou a ser destacado no Brasil o fato de que a discriminação por gênero é mais forte que a por raça. Apenas nos anos 90 é que se prestou atenção na situação da mulher branca e do homem negro, inclusive na diferença de remuneração entre eles, os homens negros ganham mais do que as mulheres brancas, que ainda não são a parcela da população economicamente ativa mais prejudicada do País. “Em qualquer recorte, a mulher negra está em má situação”, afirma Maria Cristina. “O caso é terrível, pois elas são o único grupo que não consegue traduzir educação em renda”, completa. Surpreendente, ainda, foram os dados obtidos da comparação entre os estados de São Paulo e Bahia, “esperávamos encontrar maior tolerância na Bahia, onde existe predominância racial negra, mas verificou-se que em alguns locais a discriminação é maior do que em São Paulo”, afirma Maria Cristina.
A professora da FEA chama atenção ainda para a necessidade de diálogo sobre essa faceta da realidade brasileira. “É preciso conversar muito sobre a discriminação, porque nós nem entendemos o que queremos”, afirma Maria Cristina. A prova disso é que essa questão envolve diferentes visões de mundo, inclusive do ponto de vista cultural. Nos países árabes, por exemplo, chega a ser difícil a compreensão dessa discriminação e mesmo para os católicos, predominantes no Brasil, permitir que as mulheres façam algumas tarefas tradicionalmente masculinas é visto como falta de cuidado com elas.
Quanto ao trabalho infantil, sua abolição definitiva é um dos quatro princípios da Declaração sobre os Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho de 1998 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Essa é a teoria, porque na prática é sabido da exploração de crianças brasileiras principalmente em carvoarias, madeireiras e no corte de cana, tendo a pobreza como a causa maior para sua motivação. No entanto, Maria Cristina não deixa de expor os paradoxos dessa questão, citando um estudo feito em propriedades rurais da Gana e Paquistão, onde quanto maior o tamanho da propriedade, maior é a utilização do trabalho infantil. Essa discussão foi apenas uma das que podem ser acompanhadas, das 12h30 às 14h30, nos Seminários Acadêmicos das Quintas-feiras na FEA, para participar não é preciso fazer inscrição prévia.