ISSN 2359-5191

02/03/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 14 - Ciência e Tecnologia - Escola Politécnica
Vírus substitui agrotóxicos em plantações de soja
Projeto tem como objetivo produzir vírus em grandes quantidades como arma biológica para controle da lagarta-da-soja. Método apresenta benefícios em relação ao agrotóxico
O vírus trataria de eliminar da plantação de soja somente seu principal parasita: a largarta-da-soja

Como o maior produtor de soja do mundo, o Brasil precisa cada vez mais aprimorar suas práticas no plantio. Uma delas seria a substituição dos produtos químicos que são utilizados para exterminar insetos que prejudicam a plantação. Uma técnica utilizada é o da aplicação de vírus nas plantações que matam especificamente a lagarta-da-soja. Um projeto de pesquisa liderado pelo professor Aldo Tonso, do Departamento de Engenharia Química da Escola Politécnica (Poli), tem estudado a produção em massa desse vírus, utilizando como hospedeiro de produção células de insetos.

O que é feito na grande parte das plantações atuais é usar um produto químico que mata insetos que comem as grandes plantações. Um desses insetos é a lagarta do tipo Anticarsia gemmatalis, conhecida como lagarta-da-soja, que come as folhas da soja. O agrotóxico utilizado na plantação mata a lagarta, porém, também afeta outros seres vivos como insetos que fazem bem à cultura da soja. Além disso, em grandes quantidades pode fazer mal para humanos e animais que estão a volta. Portanto, existe uma tendência de tentar procurar um sistema de controle das pragas sem o uso de produto químico. “Então a ideia que já se usa no Brasil faz tempo é a de aspergir um vírus que é infeccioso para essa lagarta que come a folha da soja”, diz Tonso.

 

                    A lagarta-da-soja Anticarsia gemmatalis é o pricipal parasita das plantações de soja

Segundo a ideia proposta, o vírus seria esparramado em toda a plantação e pousaria nas folhas. Após a ingestão da folha pela lagarta, ele entraria no trato digestivo e, após chegar ao intestino, infectaria a lagarta. Depois de inúmeros processos de infecção, o vírus produz um outro formato mais resistente, onde fica protegido por uma proteína chamada poliedrina. Ela forma uma estrutura (poliedro) que consegue se manter na plantação por muito mais tempo. Além disso, como o vírus somente ataca espécies específicas, não prejudicaria outros grupos: “Ele não faria nada ao humano e aos animais e nem afetaria os outros insetos”, confirma. A plantação de soja também não seria afetada pelo despejo do vírus em sua superfície.

O projeto comandado por Tonso em parceria com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) propõe a criação de células animais para serem infectadas pelo vírus. Tonso resume a ideia: “Poderia cultivar só uma célula de inseto e não um organismo inteiro. Depois infecto com esse vírus, que vai entrar em uma célula e fazer ela trabalhar para produzir mais vírus e infectar mais células. Então eu vou usar as células como hospedeiras e produtoras”. Com isso, ele pode obter um ambiente muito mais controlado e específico. A ideia é que se produza vários vírus dentro de um reator onde o ambiente é constantemente regulado, mantendo controladas a temperatura, a acidez e a porcentagem de oxigênio.  

Reator onde as células infectadas são cultivadas. É possível controlar a temperatura, o pH e o oxigênio ambiente Crédito: Aldo Tonso

A proposta consiste basicamente em um cultivo de células originárias da lagarta Spodoptera fugiperda infectadas com o baculovírus AgMNPV (Anticarsia gemmatalis multiple nucleopolyhedrovirus). “Uso uma célula como produtora do meu produto, aproveitando da maquinaria celular natural dela.” Essa é um técnica muito utilizada dentro do ramo de bioprocessos. Entre os casos que se utiliza a produção em célula ao invés em um organismo, está o da penicilina e o do etanol.

Portanto, o AgMNPV é o vírus que é usado como pesticida biológico para controle da lagarta-da-soja nas plantações de soja. O método já foi aplicado pela Embrapa de Maringá na região. A área tratada com o controle biológico supera dois milhões de hectares.

 

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