Em um relatório para Secretaria do Interior do Estado de São Paulo, Afonso d'Escragnolle Taunay escreveu sobre o funcionamento do Museu Paulista, no qual era diretor desde 1917. No relato, informava os nomes dos artistas consultados a respeito da nova ornamentação do teto do Museu para a celebração do Centenário da Independência. Entre os elencados, Oscar Pereira da Silva foi um deles. Pintor de obras que retratam momentos marcantes da história brasileira, o artista produziu grandes obras como “Desembarque de Dom Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500” e “ A Corte de Lisboa”.
No evento “I Encontro de Pós-Graduandos do IEB”, realizado no Instituto de Estudos Brasileiros da USP, Carlos Rogério Lima Jr. apresentou sua pesquisa acerca de Oscar Pereira da Silva e as encomendas para o Museu Paulista na década de 1920. “Minha dissertação de mestrado só foi possível a partir do levantamento de documentos, que permitiu muitas das vezes elucidar o processo de criação das pinturas e assim compreender melhor sobre as intenções possíveis das escolhas de diversos episódios históricos retratatos e pertencentes à instituição”, explica o pesquisador.
Em 1920, Taunay confiou a Pereira da Silva obras com diversas temáticas sobre a história brasileira: desde o movimento das bandeiras, das monções, até os momentos da da independência política em 1822. “Se as negociações travadas entre o Taunay e os artistas residentes do Rio de Janeiro puderam ser acompanhadas nas trocas de correspondência, reservada nos arquivos do próprio museu. O caso de Oscar Pereira da Silva é diferente, já que número de cartas é escasso. A leitura dos muitos escritos, entre eles as consultas feitas com o objetivo de angariar dados históricos que pudessem colaborar com a construção dos quadros, assim como os relatórios sobre o funcionamento do museu e as publicações de sua própria autoria deixaram indícios que permitiram algumas indagações sobre as causas que presidiram a produção das telas assinadas por Pereira da Silva, encomendadas para o museu”, conta o mestrando.
Durante a fala, Carlos Rogério Lima Jr. apresentou o quadro “A Corte de Lisboa”, de 9 de maio de 1822, pintura que rememora a atuação dos deputados brasileiros na corte. Essa foi, segundo ele, uma das telas que dada a quantidade de vestígios do quadro, possibilitou compreender melhor os bastidores de sua produção. “De todos os espaços do interior do palácio, percebe-se que Taunay se deteve sobretudo à decoração do Salão de Ouro para a comemoração do centenário de 1922. Foi para essa grande sala que “A Corte de Lisboa” foi alocado, posicionado na frente de "Dom Morte", de Pedro Américo. Pereira da Silva, com essa sua tela, retoma os preceitos da pintura de história e os elementos de tempo, espaço e ação integram a construção da narrativa visual”, explica.
Quadro “A Corte de Lisboa”, de Oscar Pereira da Silva
Essa obra foi entregue para o museu em 1922, juntamente com outra pintura também de sua autoria, a respeito da expulsão das tropas portuguesas do Rio de Janeiro pelo Príncipe Dom Pedro em fevereiro de 1822. “Se esta ultima constava nas primeiras ideias do programa decorativo em 1919, devia retratar cenas bélicas, com composições históricas ligadas as ações de guerra relativas à independência. O desejo de representar a atuação dos deputados brasileiros na corte de 1822 esteve até então omissos nos planos do diretor. Sobre a tela, se referiu Taunay apenas em seu relatório à Secretaria do Interior em 1922. Segundo ele, representou o artista uma sessão agitada das cores, a de 9 de maio de 1822, quando os deputados brasileiros fazem frente ao recolonizador, que quer botar medidas opressivas ao Brasil”, conta o pesquisador.