Um modelo desenvolvido pelo Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IFUSP) foi capaz de prever mudanças na afinidade política entre partidos com representação na Câmara dos Deputados. A análise das votações de projetos de lei no período correspondente aos governos FHC e Lula (1994 – 2010) permitiu a constatação de que os partidos de centro tendem apoiar mais o governo de situação que a oposição.
O sistema, detalhado no mestrado de Felippe Alves Pereira, trabalha não com os indivíduos, complexos demais para serem estudados, mas com “agentes”, simuladores “dotados de mobilidade” e capazes de escolher com quem interagir entre si conforme o quanto concordam ou discordam. A partir de um “algoritmo ótimo”, uma versão simplificada do mecanismo de aprendizado que empresas como a Google utilizam para sugerir páginas a quem navega na internet, o voto de cada deputado de um partido neutro era comparado aos obtidos com os políticos do PT e PSDB. Tal método visava traçar uma média de apoio entre os partidos, ou seja, o quanto concordaram em determinado projeto.
Convencionando o grau “-1” para representar total discordância e “1” como total concordância, o modelo conseguiu chegar à conclusão de que quando uma oposição é fraca, ou se a situação exerce pressão política forte, o apoio vai para o lado mais forte. Em caso contrário, no entanto, isso não foi tão claramente observado. Analisando cada ata referente aos projetos discutidos nesse período – calcula-se cerca de mil a 1.500 leis por mandato - a equipe que trabalhou nos testes chegou ao mesmo resultado simulado: se, em um gráfico, cada ponto representasse um projeto em que há concordância, as linhas tenderiam, com o tempo, a se aproximar cada vez mais.
Apesar do período de análise considerado curto, dada nossa jovem democracia, e da complexidade que um estudo político demanda, tendo em vista a postura volátil dos partidos, Pereira julga tal resultado como satisfatório. “É questionável porque alguns projetos podem ser mais importantes que outros, mais estratégicos ou mais polêmicos. Mas capturamos algum aspecto importante, que pode ter reflexo direto no observado”.
Para o pesquisador, a análise dos resultados do modelo poderia contribuir também para a otimização das estruturas políticas vigentes, a fim de se conduzir a uma representatividade popular realmente efetiva. “É uma democracia que funciona de fato? Ou as relações entre partidos determinariam o que deve ser feito pelo país?”, finaliza.