A Copa do Mundo de 2014, além do traumático 7x1, trouxe outro fato que chamou atenção negativamente para o futebol brasileiro. Das 32 seleções que disputaram o título mundial, apenas uma era comandada por um treinador daqui, a própria seleção da casa, com Felipão. Não é à toa, porém, que os técnicos brasileiros vêm perdendo espaço. Para o professor José Alberto Aguilar Cortez, coordenador do grupo de estudos de futebol e futsal da Escola de Educação Física e Esporte da USP, isso tem relação direta com o fato de o Brasil não ter a tradição de formar técnicos em escola, diferente de outros países. “Na Europa”, explica, “um curso é obrigatório para qualquer indivíduo que queira exercer a profissão, mesmo que ele tenha sido jogador de futebol”.
O pesquisador ressalta o fato de que a Colômbia, por exemplo, tinha três representantes em seleções diferentes, enquanto o Brasil, pentacampeão do mundo, apenas um. “Foi quando nós relembramos o fato de que o colombiano que treinou a Costa Rica estudou aqui na USP na década de 70 e estagiou no Corinthians. Naquela época, São Paulo, em função do tricampeonato mundial do Brasil, era muito procurado pelos latino-americanos, mas isso deixou de acontecer”, lamenta o professor.
A questão, segundo ele, esbarra na falta de escolas. Tite, por exemplo, atual técnico do Corinthians, recentemente foi fazer um período sabático na Europa e teve contato com diversos treinadores para aprender mais sobre o esporte. Desde o seu retorno ao time paulista, não sofreu nenhuma derrota e acendeu o farol amarelo para essa questão. “A gente precisa vestir um pouquinho aquela sandália da humildade e reconhecer que a gente também precisa começar a estudar”, afirma Cortez, o qual ainda alerta para o fato de que não podemos mais nos acomodar com os “craques brasileiros”, já que o futebol está cada vez mais nivelado.
O pesquisador conta também sobre um projeto desenvolvido junto à Liga Paulista de Futsal. Segundo ele, membros da entidade ouviram uma entrevista sua à Rádio Bandeirantes e entraram em contato para desenvolver uma escola de formação de treinadores. Desde então, um representante da liga passou a acompanhar as reuniões do grupo e há uma intenção para estender esse projeto para o futebol, algo que começa a tomar forma.
O professor, que ocupa esta cadeira desde antes de a Copa de 1994, já havia se cansado de procurar as entidades responsáveis, mas, recentemente, a Confederação Brasileira de Futebol esteve em contato com o grupo para dar um primeiro passo. No próximo final de semana, em parceria com a EEFE, começa um curso de preparação física para as categorias de base.
José Alberto Cortez ressalta que essas escolas poderiam atuar na direção de uma mudança do ambiente em que o futebol brasileiro está inserido, que ele acredita ser “enclausurado”, ou seja, onde as pessoas disputam espaço, não trocam informações e, portanto, não evoluem. Na Europa, por exemplo, os treinadores se encontram em inúmeros congressos para conversar e debater o esporte.
Essa deficiência brasileira foi percebida antes do mundial, quando o professor propôs um trabalho em que cada grupo de alunos tinha de traçar o perfil de um dos treinadores que disputaria a Copa. Os resultados inspiraram a criação de um livro, que faz um estudo de todos os treinadores brasileiros que passaram por Copas do Mundo e vê como eles chegaram a dirigir uma seleção, além de comparar algumas escolas de técnicos que marcaram época ao redor do mundo. O livro ainda não foi publicado